Na lista de presença da escola, em ordem alfabética, meu nome estava sempre lá no meio – algo normal para quem se chama Henrique. A chamada sempre começava pela Adriana e lá no final vinha o nome do William. Mas isso foi só até a chegada do Abel e da Zélia, que tomaram o posto de primeiro e última na lista de presença. Assim como na minha classe, no mundo da taxonomia – a ciência que dá nome aos seres vivos – também há uma disputa por essas posições de destaque. Veja só…
Em 1936, o norte-americano Max Walker de Laubenfels descreveu várias espécies e até novos gêneros de esponjas-marinhas. Os mais curiosos foram os gêneros Aaaba e Zyzzya, nomes que não significam nada, mas certamente ficam entre os primeiros e últimos em qualquer lista alfabética de nomes científicos.
Mais de 60 anos depois, o entomólogo Charles Bellamy também deu o nome de Aaaba a um gênero de besouros, sem saber que o mesmo já tinha sido usado para identificar esponjas-marinhas. Uma vez que animais diferentes não podem ter o mesmo nome científico, Bellamy teve que apresentar uma correção aos colegas taxonomistas e escolher um novo nome para os besouros com os quais trabalhou. Sua solução foi simples: adicionou uma letra ‘a’ e criou o nome Aaaaba. Será que faltou imaginação?
Se a disputa for pelo primeiro lugar na “lista de chamada” do reino animal, o prêmio vai para um grupinho de caramujos. Em 1940, o pesquisador Horace Baker publicou um estudo sobre os caramujos de diversas ilhas do Oceano Pacífico. Nesse trabalho, dividiu o gênero Philonesia (“amante das ilhas”, em grego) em vários subgêneros. O de nome mais curioso é o subgênero Aa. Esse é imbatível!
Alan Solem, outro especialista em caramujos, também criou nomes estranhos para alguns bichos que estudou. Ele descobriu dois gêneros novos aparentados a um que já era conhecido, chamado Endodonta (nome que quer dizer “dentes internos”, em grego, porque a parte interna da concha desses caramujos possui ornamentações que lembram dentes). Apesar de algumas similaridades com os Endodonta, os caramujos que Solem descobriu eram muito diferentes entre si – tão diferentes que o especialista queria que eles ficassem bem distantes em uma lista alfabética. A solução para isso foi chamar os novos gêneros de Aaadonta e Zyzzyxdonta. Esses nomes também não têm significado, exceto pela terminação donta, que faz referência ao gênero Endodonta.
O último nome na lista é o do invertebrado marinho Zyzzyzus warreni. O nome do gênero, Zyzzyzus, não tem significado algum, mas não deixa de ser bastante esquisito. Por outro lado, o nome específico warreni é uma homenagem ao pesquisador inglês Ernest Warren. Ele era especialista no estudo de cnidários – grupo que inclui o gênero Zyzzyzus – e durante mais de 30 anos trabalhou em Natal, na África do Sul, onde Zyzzyzus warreni foi encontrada pela primeira vez.
Que todos esses nomes são estranhos, não resta dúvida. Mas eles dividem opiniões: alguns acham as nomenclaturas divertidas, enquanto outros consideram horrorosas e sem graça. E você?