Concerto no brejo

As noites de verão nos brejos são sempre animadas. Sapos, rãs e pererecas machos coaxam para atrair a atenção das fêmeas. Cada espécie tem seu canto: alguns lembram um “cururururu”, enquanto outros soam como “qui-qui”, “fiu-fiu”, “cré-cré”, e por aí vai… uma barulheira só!

Em noites quentes e úmidas, os anfíbios fazem uma verdadeira festa, onde os machos coaxam da melhor maneira possível para garantir uma namorada. (foto: Diego J. Santana)

Em noites quentes e úmidas, os anfíbios fazem uma verdadeira festa, onde os machos coaxam da melhor maneira possível para garantir uma namorada. (foto: Diego J. Santana)

Dentro da mata ou na beira dos riachos, é a mesma coisa – os anfíbios fazem a festa. Um verdadeiro concerto a céu aberto, lindo de se ouvir. Por conta de seu talento musical, alguns anfíbios ganharam nomes científicos que fazem referência a celebridades do mundo da música.

O sapinho-de-Mozart vive em uma pequena região do Haiti e está ameaçado de extinção. Observe uma representação gráfica do seu canto – que pode ser (a href=http://www.caribherp.org/index.php?src=amadeus&sub=Submit&dd=n)ouvido aqui(/a). O desenho formado pela frequência do som lembra notas musicais, concorda? (foto: S. Blair Hedges; ilustração: S. Blair Hedges e colaboradores, Copeia, 1987)

Observe uma representação gráfica do canto do sapinho-de-Mozart – que pode ser (a href=http://www.caribherp.org/index.php?src=amadeus&sub=Submit&dd=n)ouvido aqui(/a). O desenho formado pela frequência do som lembra notas musicais. (foto: S. Blair Hedges; ilustração: S. Blair Hedges e colaboradores, Copeia, 1987)

O primeiro foi descoberto em 1987, em uma montanha do Haiti. É um sapinho do gênero Eleutherodactylus (nome grego que quer dizer “dedos livres”, pois esses animais não possuem membranas entre os dedos). Seu canto, ao ser gravado e depois representado graficamente por aparelhos, apresentava frequências em forma de notas musicais! Por isso, ganhou o nome de Eleutherodactylus amadeus, em homenagem a um grande compositor do século 18, Wolfgang Amadeus Mozart.

Outra espécie que ganhou nome de músico é Pristimantis jorgevelosai, da Colômbia. O sapo foi batizado em homenagem a Jorge Luis Velosa Ruiz, um dos criadores do estilo musical conhecido como “carranga”. P. jorgevelosai pode ser encontrado na Cordilheira dos Andes, a mais de 1.900 metros de altitude. Aliás, Pristimantis, em grego, significa “sapo da serra”, um nome perfeito para um bicho que vive em uma montanha tão alta.

Nosso próximo exemplo vem do cerrado de Minas Gerais. Foi lá que pesquisadores brasileiros descobriram uma nova espécie do gênero Ischnocnema (“panturrilha fina” em grego). Admiradores da música caipira, os especialistas chamaram a nova espécie de Ischnocnema penaxavantinho, em homenagem à dupla sertaneja Pena Branca & Xavantinho, sucesso entre as décadas de 1980 e 1990.

Ischnocnema penaxavantinho é uma espécie encontrada na Estação Ecológica do Panga, em Uberlândia, Minas Grais. Bem pequeninas, as rãzinhas desta espécie medem menos de 2 centímetros de comprimento. (foto: Ariovaldo Giaretta)

(i)Ischnocnema penaxavantinho(/i) é uma espécie encontrada na Estação Ecológica do Panga, em Uberlândia, Minas Grais. Bem pequeninas, as rãzinhas desta espécie medem menos de 2 centímetros de comprimento. (foto: Ariovaldo Giaretta)

Na Índia, biólogos descreveram, em 2013, um anfíbio que pertencia ao mesmo tempo a uma nova espécie e um novo gênero. O bicho ganhou o nome de Mercurana myristicapalustris. O nome do gênero é uma homenagem a Freddie Mercury, vocalista da banda de rock inglesa Queen, misturando seu sobrenome com a palavra rana, que significa “rã” em latim. O nome específico myristicapalustris quer dizer “brejo da noz-moscada” em latim, por causa do ambiente onde a espécie vive: brejos com árvores de noz-moscada no meio da floresta. Deve ser um lugar cheiroso!

A perereca-de-Ozzy foi descoberta pela primeira vez em florestas do Amazonas e do Pará. Seu curioso canto chamou a atenção dos biólogos: difícil de ouvir , lembra os sons emitidos por morcegos durante o voo. Dizem por aí que o roqueiro Ozzy Osbourne certa vez mordeu um morcego jogado no palco durante um concerto, pensando que fosse de plástico – essa foi a inspiração para a homenagem! (foto: Pedro Peloso)

A perereca-de-Ozzy foi descoberta em florestas do Amazonas e do Pará. Seu curioso canto chamou a atenção dos biólogos: difícil de ouvir , lembra os sons emitidos por morcegos durante o voo. Dizem por aí que o roqueiro Ozzy Osbourne certa vez mordeu um morcego jogado no palco durante um concerto, pensando que fosse de plástico – essa foi a inspiração para a homenagem! (foto: Pedro Peloso)

Mas, quando o assunto é homenagear músicos famosos, nenhum anfíbio ganha das pererecas do gênero Dendropsophus (“que faz barulho na árvore”, em grego). São três espécies com nome de celebridades: a brasileira Dendropsophus ozzyi (por causa do roqueiro inglês Ozzy Osbourne) e as colombianas Dendropsophus stingi (cujo nome homenageia o cantor e ator britânico Sting, que também é ativista pela preservação das florestas tropicais) e Dendropsophus manonegra (“mão preta” em espanhol, em referência às suas patas negras e também à banda de rock francesa Mano Negra).

Essas duas espécies de pererecas da Colômbia possuem um nome científico em homenagem ao cantor Sting e à banda de rock Mano Negra. (fotos: Andrés Acosta [esquerda] e Marco Rada [direita])

Essas duas espécies de pererecas da Colômbia possuem um nome científico em homenagem ao cantor Sting e à banda de rock Mano Negra. (fotos: Andrés Acosta [esquerda] e Marco Rada [direita])

Música clássica, sertaneja, carranga e até rock. Existem anfíbios com nomes de artistas de todos esses estilos musicais. E, como novas espécies continuam sendo descobertas todos os anos, essa lista pode aumentar no futuro. Se fosse você o biólogo, daria a uma nova espécie o nome de um artista de quem você gosta?