Dia 1º de abril, o famoso “dia da mentira”. Quem nunca caiu em uma pegadinha feita por um amigo? Eu já caí em muitas. Algumas mentiras são tão cabeludas que é fácil desmascarar o espertinho que as conta. Mas tem gente que sabe mentir de uma forma tão convincente que fica difícil perceber…
Na sua turma tem muito mentiroso? O mundo animal está cheio deles. E eles não mentem apenas no dia 1º de abril, não, e sim durante a vida toda! Na verdade, a vida desses bichos depende de uma mentira bem contada. Afinal, eles são miméticos.
Um animal mimético é aquele que imita outro animal, uma planta ou até uma coisa. O objetivo da imitação pode ser enganar uma presa ou um predador, por exemplo. Há espécies de aranhas que parecem flores, lagartos que imitam besouros, insetos que lembram gravetos, e por aí vai.
Um exemplo bastante interessante é o das cobras-corais. Existem dezenas de espécies de “corais-verdadeiras”, dotadas de um poderoso veneno usado para matar suas presas e se defender contra inimigos. A maioria das corais-verdadeiras do nosso continente pertence ao gênero Micrurus (“cauda pequena”, em grego) e apresenta cores vibrantes, geralmente em tons de vermelho, branco e preto.
Também existem por aqui muitas espécies de “falsas-corais”, serpentes cujo veneno é fatal para suas presas, mas não costuma oferecer perigo a predadores como nós, humanos. Como o nome já diz, as falsas-corais se parecem com as corais-verdadeiras. Uma das possíveis explicações para este fenômeno é que, por se parecer com uma coral-verdadeira, a falsa-coral fica mais protegida. Isso acontece porque muitos predadores como aves e mamíferos evitam atacar animais com cores muito chamativas, pois geralmente eles são venenosos ou têm gosto ruim.
Uma das falsas-corais mais comuns no Brasil é conhecida pelos cientistas como Erythrolamprus aesculapii. Em grego, Erythrolamprus quer dizer “vermelho brilhante”, uma das cores desta espécie. Já o nome aesculapii faz referência a Esculápio ou Asclépio, deus grego da medicina e da cura, cujo símbolo é um cajado onde se enrola uma serpente.
Também são comuns por aqui as espécies do gênero Oxyrhopus (“que muda rapidamente”, em grego). Uma característica interessante dessas serpentes é que seu ventre costuma ser branco, ao contrário das cores vibrantes do dorso. Talvez seja essa a origem do nome científico do gênero.
Algumas espécies de Oxyrhopus são encontradas em várias regiões do Brasil, como Oxyrhopus guibei (nome em homenagem ao pesquisador francês Jean Marius René Guibé, amigo dos descobridores da espécie) e O. trigeminus (“trigêmeo”, em latim, referência às manchas pretas que se distribuem em grupos de três pelo corpo desta espécie). Há também algumas Oxyrhopus com distribuição mais restrita, como O. clathratus (“decorada como uma treliça”, em latim), que ocorre na Mata Atlântica, e O. melanogenys (“mandíbula negra”, em grego), típica da Amazônia.
Esses são apenas alguns exemplos. Como eu disse, existem muitas espécies de falsas-corais, com colorações que lembram vagamente ou até perfeitamente uma coral-verdadeira. Por isso, vamos combinar: diferenciar uma coral-verdadeira de uma falsa é tarefa para especialistas!