Coloridas e mentirosas

Dia 1º de abril, o famoso “dia da mentira”. Quem nunca caiu em uma pegadinha feita por um amigo? Eu já caí em muitas. Algumas mentiras são tão cabeludas que é fácil desmascarar o espertinho que as conta. Mas tem gente que sabe mentir de uma forma tão convincente que fica difícil perceber…

Animais miméticos são mestres da mentira. Por exemplo, um grilo que finge ser uma formiga (à esquerda) e uma lagarta que se passa por serpente. (fotos: Muhammad Mahdi Karim / Wikipedia e Henrique C. Costa)

Animais miméticos são mestres da mentira. Por exemplo, um grilo que finge ser uma formiga (à esquerda) e uma lagarta que se passa por serpente. (fotos: Muhammad Mahdi Karim / Wikipedia e Henrique C. Costa)

Na sua turma tem muito mentiroso? O mundo animal está cheio deles. E eles não mentem apenas no dia 1º de abril, não, e sim durante a vida toda! Na verdade, a vida desses bichos depende de uma mentira bem contada. Afinal, eles são miméticos.

Um animal mimético é aquele que imita outro animal, uma planta ou até uma coisa. O objetivo da imitação pode ser enganar uma presa ou um predador, por exemplo. Há espécies de aranhas que parecem flores, lagartos que imitam besouros, insetos que lembram gravetos, e por aí vai.

Mais de 30 espécies de corais-verdadeiras são encontradas no Brasil. Elas vivem geralmente escondidas no subsolo, o que as torna difíceis de ver. Aqui você observa quatro delas: (i)Micrurus corallinus(/i) (“de coral”, em latim) e (i)Micrurus frontalis(/i) (do latim “frontal”, por causa da cor do focinho) são encontradas no sudeste; (i)Micrurus surinamensis(/i) (“do Suriname”, em latim, país onde foi descoberta) vive na Amazônia e é aquática; e a curiosa (i)Micrurus albicinctus(/i) (“rodeada de branco”, em latim), também da Amazônia, não possui cor vermelha.

Mais de 30 espécies de corais-verdadeiras são encontradas no Brasil. Elas vivem geralmente escondidas no subsolo, o que as torna difíceis de ver. Aqui você observa quatro delas: (i)Micrurus corallinus(/i) (“de coral”, em latim) e (i)Micrurus frontalis(/i) (do latim “frontal”, por causa da cor do focinho) são encontradas no sudeste; (i)Micrurus surinamensis(/i) (“do Suriname”, em latim, país onde foi descoberta) vive na Amazônia e é aquática; e a curiosa (i)Micrurus albicinctus(/i) (“rodeada de branco”, em latim), também da Amazônia, não possui cor vermelha.

Um exemplo bastante interessante é o das cobras-corais. Existem dezenas de espécies de “corais-verdadeiras”, dotadas de um poderoso veneno usado para matar suas presas e se defender contra inimigos. A maioria das corais-verdadeiras do nosso continente pertence ao gênero Micrurus (“cauda pequena”, em grego) e apresenta cores vibrantes, geralmente em tons de vermelho, branco e preto.

A espécie (i)Erythrolamprus aesculapii(/i) habita tanto florestas quanto áreas abertas e seu alimento favorito são outras serpentes e lagartos de corpo alongado. (foto: Henrique C. Costa)

A espécie (i)Erythrolamprus aesculapii(/i) habita tanto florestas quanto áreas abertas e seu alimento favorito são outras serpentes e lagartos de corpo alongado. (foto: Henrique C. Costa)

Também existem por aqui muitas espécies de “falsas-corais”, serpentes cujo veneno é fatal para suas presas, mas não costuma oferecer perigo a predadores como nós, humanos. Como o nome já diz, as falsas-corais se parecem com as corais-verdadeiras. Uma das possíveis explicações para este fenômeno é que, por se parecer com uma coral-verdadeira, a falsa-coral fica mais protegida. Isso acontece porque muitos predadores como aves e mamíferos evitam atacar animais com cores muito chamativas, pois geralmente eles são venenosos ou têm gosto ruim.

Uma das falsas-corais mais comuns no Brasil é conhecida pelos cientistas como Erythrolamprus aesculapii. Em grego, Erythrolamprus quer dizer “vermelho brilhante”, uma das cores desta espécie. Já o nome aesculapii faz referência a Esculápio ou Asclépio, deus grego da medicina e da cura, cujo símbolo é um cajado onde se enrola uma serpente.

A diversidade de falsas-corais do Brasil também é grande. Essa é só uma pequena amostra.

A diversidade de falsas-corais do Brasil também é grande. Essa é só uma pequena amostra.

Também são comuns por aqui as espécies do gênero Oxyrhopus (“que muda rapidamente”, em grego). Uma característica interessante dessas serpentes é que seu ventre costuma ser branco, ao contrário das cores vibrantes do dorso. Talvez seja essa a origem do nome científico do gênero.

Algumas espécies de Oxyrhopus são encontradas em várias regiões do Brasil, como Oxyrhopus guibei (nome em homenagem ao pesquisador francês Jean Marius René Guibé, amigo dos descobridores da espécie) e O. trigeminus (“trigêmeo”, em latim, referência às manchas pretas que se distribuem em grupos de três pelo corpo desta espécie). Há também algumas Oxyrhopus com distribuição mais restrita, como O. clathratus (“decorada como uma treliça”, em latim), que ocorre na Mata Atlântica, e O. melanogenys (“mandíbula negra”, em grego), típica da Amazônia.

Você já se perguntou de onde vem o nome “cobra-coral”? Ele tem origem na semelhança do tom de vermelho de muitas dessas serpentes com o do coral-marinho da espécie (i)Corallium rubrum(/i) (“coral rubro” em uma mistura de grego e latim), muito usado antigamente para confecção de joias.  (foto: Christophe Quintin / Flickr / CC BY-NC 2.0)

Você já se perguntou de onde vem o nome “cobra-coral”? Ele tem origem na semelhança do tom de vermelho de muitas dessas serpentes com o do coral-marinho da espécie (i)Corallium rubrum(/i) (“coral rubro” em uma mistura de grego e latim), muito usado antigamente para confecção de joias. (foto: Christophe Quintin / Flickr / CC BY-NC 2.0)

Esses são apenas alguns exemplos. Como eu disse, existem muitas espécies de falsas-corais, com colorações que lembram vagamente ou até perfeitamente uma coral-verdadeira. Por isso, vamos combinar: diferenciar uma coral-verdadeira de uma falsa é tarefa para especialistas!