Não me recordo de ter conhecido menina mais bonita que Aninha. Creio que não apenas eu, mas também Pedro, Zé Meleca, Lula, Manoelzão, Perereca, Baixinho, Zeca e todos os meninos da segunda série. Ela tinha um cabelo longo, de uma cor entre preto, amarelo e um pouco cor-de-abóbora. Todos os que olhavam ficavam hipnotizados pelo brilho e pela textura sedosa, tal qual a das teias de uma aranha.
Como era disputado sentarmos próximos a Aninha! Ao passar suavemente as mãos por seus cabelos, a bela menina exalava um perfume adocicado e que entorpecia nossas memórias. Uma coisa linda de se ver! Mas, com o tempo, foi ficando meio compulsivo – a garota não tirava os dedos das madeixas. Para nossa surpresa, um dia gritou:
– Tenho aranhas! Socorro, tenho aranhas em meus cabelos!
A correria foi geral. Todos queriam salvar Aninha das aranhas que infestavam sua cabeça. Procura daqui, procura dali, ninguém encontrava os bichos. Mas nada fazia com que a menina parasse de gritar.
Foi nessa época que me interessei em saber sobre a vida das aranhas, talvez como uma tentativa de salvar Aninha. Comecei observando-as no quintal de minha casa: pretas, amarelas, azuis e pintadas. Cabeludas e carecas. As que saltavam e aquelas que apenas andavam.
Algumas faziam grandes teias trançadas e desenhadas, enquanto outras apenas um longo fio isolado. Descobri que elas eram vorazes devoradoras de insetos – talvez por não terem um parentesco muito próximo a eles, qualquer um que passasse em sua frente virava jantar.
As aranhas são artrópodes, ou seja, têm as patas articuladas. Ao todo, são oito pernas, num corpo que possui duas partes principais: o cefalotórax e o abdômen. Seus parentes mais próximos são os escorpiões e os carrapatos.
A origem e a evolução das aranhas remontam a muitos e muitos milhões de anos. Elas possuem uma longa história na Terra e seus ancestrais mais antigos eram animais parecidos com caranguejos. Em rochas formadas há cerca de 380 milhões de anos, no período Devoniano, são encontrados seus primeiros fósseis – eles pertenciam ao grupo dos trigonotarbídeos, que não possuem um parentesco direto com as aranhas atuais.
No Brasil, encontramos fósseis de aranhas nas rochas da Bacia do Araripe, que foram depositadas em um antigo ambiente lacustre há 110 milhões de anos. Existem várias espécies, algumas das quais lembram bastante as aranhas que encontramos atualmente nas matas e mesmo em nossas casas.
A ciência foi capaz de desvendar a história das aranhas, mas, afinal, onde estavam as aranhas de Aninha? Hoje, passados tantos anos, ainda me recordo do triste fim da história da menina. Seus cabelos, cortados ao pé-da-orelha, não tinham aranhas. Eram piolhos, muitos piolhos, que infestavam nossa Rapunzel – amada por seus cabelos cor-de-mel.