Balé de luzes

Se você vive distante das grandes cidades — ou já passou alguns dias de férias em um sítio ou fazenda —, provavelmente já observou, no início da noite, o balé de luzes esverdeadas realizado pelos vaga-lumes.

Vaga-lume ou pirilampo é o nome dado a besouros de três diferentes famílias que possuem a capacidade de emitir luz. No Brasil, a espécie mais comum é a Lampyris noctiluca. Se você avistar um vaga-lume voando por aí, há grandes chances de ser um besouro desse tipo e, com certeza, macho, pois apenas eles têm asas e, portanto, podem levar seu brilho para dar um passeio pelas redondezas!

Pontos brilhantes na noite
Mas como é produzida a luz dos vaga-lumes? Tudo acontece em células especiais, chamadas de fotócitos, que se agrupam em órgãos localizados na parte inferior do abdômen chamados de… lanternas! Ali ocorre uma reação química, que produz a luz que nos encanta nesses besouros.

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Uma reação química produz a luz que chama a atenção nos vaga-lumes (foto: Wofl/Creative Commons).

Se você não sabe o que é uma reação química, não se preocupe: em outras palavras, é como se, dentro das lanternas dos vaga-lumes, acontecesse uma transformação! Uma proteína chamada luciferase usa o oxigênio e uma molécula cheia de energia chamada ATP para transformar um pigmento capaz de emitir luz conhecido como luciferina em uma outra molécula: a oxiluciferina. No final desse processo, quase toda a energia fornecida pelo ATP é liberada pela oxiluciferina sob a forma de… luz!

Uma vez produzida, a oxiluciferina é rapidamente transformada novamente em luciferina por outra proteína presente na lanterna. Então, todo o processo recomeça!

Verde, vermelha ou alaranjada

Em geral, a luz dos vaga-lumes é verde. No entanto, dependendo da espécie do besouro, pode ser vermelha ou alaranjada. Os cientistas acreditam que essa variação da cor está ligada às diferenças que há entre as luciferases das espécies.

Mas você sabia que o próprio besouro pode regular a frequência, a intensidade e até quando será emitida a sua luz? Pois é. Afinal, tudo isso depende da quantidade de oxigênio que está disponível para a reação. Se o suprimento do oxigênio para as lanternas é cortado, a produção de luz acaba. Com um fornecimento mínimo de oxigênio, a luz é fraca. Com muito oxigênio, a luz fica mais forte. E o besouro consegue reduzir ou aumentar a quantidade de oxigênio disponível porque seu sistema respiratório é diferente do encontrado nos vertebrados, abrindo, assim, essa possibilidade.

Luz que ajuda os namorados
Quando já é adulto, o vaga-lume produz luz principalmente para namorar. Cada espécie pisca em um estilo próprio. Assim, o futuro marido não se confunde na hora de achar a fêmea certa. O macho em voo pisca sua luz para avisar que está se aproximando, enquanto a fêmea pousada emite sua luz, mais fraca, para indicar sua localização. Entretanto, na fase de larva, que pode durar até dois anos, o vaga-lume emite luz, mas não pisca. Nesse estágio, em vez de servir para o namoro, a emissão de luz pode servir como um mecanismo de defesa, para confundir os predadores.

Uma larva de vaga-lume, da espécie mais comum encontrada no Brasil (foto: J. Coelho/Creative Commons).

Mas não são apenas os vaga-lumes que produzem luz. Várias espécies de bactérias, fungos, algas, lulas e peixes também fazem isso. O ser humano também estudou os vaga-lumes e copiou sua forma de produzir luz gerando pouquíssimo calor (leia o quadro e comprove).

Luz fria

Pôr a mão em uma lâmpada incandescentes em funcionamento pode não ser uma boa ideia: quem já fez isso sabe que pode até se queimar, já que a lâmpada costuma estar muito quente! Isso ocorre porque, nas lâmpadas incandescentes, a passagem da eletricidade pelo filamento de tungstênio libera muita energia em forma de calor, além da luz. Já no caso dos vaga-lumes isso acontece de uma forma diferente. A energia do ATP que foi usada para produzir a oxiluciferina é liberada principalmente sob a forma de luz, gerando pouco calor. Por isso, a luz dos vaga-lumes é chamada de luz fria.

Hoje, esse jeito de produzir luz é vendido sob a forma de bastões luminosos de alta intensidade — usados para iluminação — e pulseiras luminosas ou de neon — comuns em shows, festas noturnas, estádios de futebol ou no carnaval. Assim que a ampola presente no interior destes artefatos é quebrada, água oxigenada é liberada e se mistura com outros componentes, gerando luz. O que se vê, então, é de deixar qualquer vaga-lume morto de inveja!

Joab Trajano Silva
Instituto de Química
Universidade Federal do Rio de Janeiro