Pouco depois do banquete, vi muitas pessoas se amontoando em volta de alguma coisa na areia. Curioso como sou, fui conferir o que era. Um rapaz tinha em suas mãos uma enorme estrela-do-mar. Eu nunca tinha visto uma assim, viva e tão de perto. Fiquei maravilhado. Só não me recordo o desfecho da história. O que fizeram com a estrela? Mistério.
A (i)Oreaster reticulatus(/i) pode atingir 50 centímetros de diâmetro e é encontrada ao longo de todo o litoral brasileiro, embora seja cada vez menos abundante (Foto: Sean Nash / Flickr / Creative Commons)
Quando retornamos para casa, em Minas Gerais, levamos uma lembrança da praia. Um esqueleto de estrela-do-mar, que, por muitos, anos ficou “enfeitando” a sala de visitas. Pouco tempo atrás, descobri que aquele esqueleto da sala pertencia à espécie Oreaster reticulatus, e resolvi desvendar o significado do seu nome científico.
Nesta foto, podemos ver claramente os tubérculos que cobrem a superfície do corpo da (i)Oreaster reticulatus(/i), assim como sua aparência reticulada, ou seja, lembrando uma rede (Foto: Sean Nash / Flickr / Creative Commons)
O corpo da Oreaster reticulatus é coberto por muitos tubérculos, dando a impressão de que a superfície do animal é repleta de pequenos montes. Isso explica o nome do gênero, que, em grego, pode ser traduzido como “estrela montanhosa”. Por sua vez, o nome específico reticulatus significa “reticulado” em latim. Dizemos que alguma coisa é reticulada quando sua forma ou sua coloração lembram uma rede, e é justamente isso que notamos ao observar uma Oreaster reticulatus.
As estrelas-do-mar têm um esqueleto interno, composto pelo mineral calcita. Ele é formado por ossinhos pequenos, interligados por um tecido que garante mobilidade quando o animal está vivo. As estrelas-do-mar “secas”, vendidas nas praias, são, portanto, apenas os esqueletos (Foto: Michela Borges / cifonauta.cebimar.usp.br / Creative Commons)
Além de desvendar o significado do nome da Oreaster reticulatus, descobri algo triste: esta espécie está ameaçada de extinção na natureza. Além dos problemas causados pela poluição lançada no mar, essas estrelas têm sofrido com a coleta indiscriminada, destinada à venda para criação em aquários, ou para decoração, como o esqueleto na sala de visitas que tínhamos em casa. Só que a maioria das pessoas não sabe disso, da mesma forma que meus pais não sabiam quando compraram a estrela-do-mar como lembrança da viagem que fizemos à praia. Então, fica a lição: como o nome já diz, o lugar de estrela-do-mar não é na nossa casa.
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!