As minhocas que usávamos não mediam mais que nossa mão. Naquela época, eu nem imaginava que pudessem existir algumas espécies mais compridas que minha perna e da espessura de um dedão – os minhocuçus!
São conhecidas no Brasil mais de 50 espécies de minhocuçus, a maioria medindo entre 30 e 50 centímetros de comprimento. A mais famosa delas é Rhinodrilus alatus. Desde muito tempo, a população das áreas onde essa espécie ocorre sabia de sua existência, mas foi só em 1971 que ela foi reconhecida por um especialista e ganhou seu nome científico.
Rhinodrilus significa “minhoca com focinho” em grego. O nome é uma referência à extremidade anterior do bicho, chamada prostômio, que é comprida e lembra uma tromba ou um focinho. Já alatus quer “alado” em latim, ou “com asas”. Você pode se perguntar: seria uma minhoca voadora?
Que nada! As minhocas adultas possuem um órgão reprodutivo chamado clitelo. Em Rhinodrilus alatus, ele apresenta duas expansões laterais achatadas, as barbelas, que lembram asas.
Rhinodrilus alatus não é a única espécie do seu gênero nem foi a primeira a ser descoberta. Em 1918, o zoólogo Wilhelm Michaelsen estudou os pedaços de uma minhoca que havia sido encontrada em Sabará, Minas Gerais, e levada para a Alemanha. O pesquisador concluiu que se tratava de uma nova espécie, que poderia atingir nada menos que dois metros de comprimento, e chamou-a de Rhinodrilus fafner.
A escolha do nome fafner nunca foi explicada, mas pode ter origem em uma famosa lenda da Europa, que conta como o herói Siegfried derrotou um terrível dragão chamado Fafnir – ou Fafner. Algumas versões da história dizem que Fafnir era um dragão de corpo comprido e sem asas, e talvez por isso Michaelsen tenha dado à minhoca gigante do Brasil o nome do monstro mitológico.
Infelizmente, ninguém nunca mais encontrou uma Rhinodrilus fafner na natureza, e lá se vão quase 100 anos. Terá a espécie desaparecido para sempre após a construção de cidades nas regiões onde vivia, como Belo Horizonte?
Por outro lado, as notícias são melhores para Rhinodrilus alatus. Desde 2004, pesquisadores do Projeto Minhocuçu estudam essa espécie e descobriram que ela não está ameaçada de extinção, como se pensava antes. Além disso, o projeto tem auxiliado diversas famílias a coletar os minhocuçus de forma sustentável. Assim, a população de minhocas não é prejudicada e a pescaria continua garantida!
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!