O que matou os dinossauros? A coluna De volta a pré-história coloca uma pulga atrás da sua orelha
Por: Ismar de Souza Carvalho, Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Era uma noite de lua minguante. O céu escuro possibilitava observar estrelas e mais estrelas. Havia também um silêncio angustiante, apenas interrompido por um ou outro coaxar de uma rã perdida no meio do jardim. Confesso que nunca gostei de noites assim. A escuridão me trazia certo medo.
Porém, com ou sem medo, o chamado do bolo que minha avó havia preparado no final da tarde era mais forte e decidi caminhar até sua casa. Não era muito distante, pouco mais que duas ou três quadras, porém numa total escuridão. As ruas de terra, as poucas casas e nenhuma iluminação pelos caminhos faziam tudo muito, mas muito mais assustador. Mal sabia o que me aguardava.
Ao me afastar de minha casa, um barulho ensurdecedor e uma luz brilhante cortaram o céu. Nunca corri tanto. A luz e o ruído, através da escuridão, tinham um impacto em minha imaginação, que me levavam a pensar no fim do mundo. Corri e corri muito, chegando ofegante na casa de minha avó, que apenas disse: “Faça um pedido, pois você acaba de ver uma estrela-cadente! Mas não o conte a ninguém, até que se realize.”
Assim são conhecidos popularmente os meteoros, fragmentos rochosos que vagam pelo céu e, ao serem atraídos pela Terra, produzem luz e barulho devido ao atrito com a atmosfera. Muitos já caíram em nosso planeta e, dependendo de seu tamanho, podem provocar estragos e mortes. Sua queda pode formar crateras que atingem centenas de quilômetros de comprimento, provocando a liberação de calor, gases e muita poeira. A extinção de animais como os dinossauros, no final do período Cretáceo, há 65 milhões de anos, é atribuída à queda de um grande meteoro.
Mas será que os dinossauros realmente desapareceram de nosso planeta devido ao impacto de um grande meteoro? Culpá-los pela extinção dos dinossauros talvez não seja uma boa explicação científica. Talvez o motivo tenha sido outro…
Há 65 milhões de anos, a Terra passava por grandes transformações na distribuição das terras e dos mares. Os vulcões eram comuns, o oceano Atlântico encontrava-se em formação e o clima se modificava. Tudo contribuía para um mundo novo, diferente do que existia até então. Algo impressionante também ocorria com a vegetação que se proliferava sobre os continentes. Um novo tipo de planta, com flores, era cada vez mais comum e, talvez, bastante prejudicial aos animais.
Se os dinossauros viram um grande meteoro prestes a cair, certamente não fizeram um bom pedido. Na minha noite, já distante há muitos anos, fiz o meu. Continua em segredo, pois ainda não se realizou. Porém, desde então, as noites escuras deixaram de ser ameaçadoras, e se tornaram um tesouro em que os desejos e sonhos podem se realizar – mesmo que dependam da luz efêmera de um pedaço de rocha inconformado com sua solidão.