As andorinhas voltaram

Quase no final do mês de setembro, observamos o término do inverno. O frio começa a ir embora, os dias vão ficando mais longos e as noites, mais curtas. A vida se renova, com muitas plantas dando flores e frutos, diversos animais se reproduzindo, e a temporada de chuvas tendo início em várias regiões. Mas, no hemisfério norte, é tudo ao contrário: setembro marca o final do verão e o calor vai diminuindo dia após dia.

Para quem não gosta de frio, bom mesmo seria poder mudar de hemisfério toda vez que o verão termina. Já imaginou? É justamente isso que algumas aves fazem: uma longa viagem fugindo do frio!

Progne subis

A andorinha-azul tem esse nome por causa da cor do macho adulto – já a fêmea tem coloração branca e cinza. A palavra “andorinha” tem origem no latim. Nessa língua, essas aves eram conhecidas como “hirundo”, que, com o tempo, se tornou “harundo” e depois possivelmente “harundina”, até virar “andorinha” em português (Foto: Almir Jacomelli)

As andorinhas-azuis, por exemplo, migram todos os anos de uma região para outra. Elas se reproduzem nos Estados Unidos e no Canadá e, quando o verão termina por lá, voam para o hemisfério sul, em busca de abrigo e calor. O Brasil é um dos destinos dessas aves viajantes, que chegam aqui em setembro (às vezes um pouco antes ou um pouco depois) e ficam até os primeiros meses do ano seguinte. Quando nosso verão chega ao fim, é hora de levantar voo e retornar para o norte, onde a primavera recomeça.

procne e filomena

Segundo a mitologia grega, Procne era casada com o rei Tereu, com quem teve um filho. Porém, Tereu acabou se apaixonando pela irmã da esposa, Filomena, o que, é claro, acabou em confusão e numa briga danada. Os três foram, então, castigados pelos deuses do Olimpo e transformados em aves, sendo a nova forma de Procne uma andorinha (Imagem: Reprodução do quadro "Filomena e Procne", de Elizabeth Gardener Bouguereau)

Esses belos pássaros que todos os anos fogem do frio carregam no nome a lenda de uma fugitiva da Grécia Antiga – a jovem Procne que, enquanto escapava de seu malvado marido Tereu, foi transformada pelos deuses do Olimpo em uma andorinha. Em referência a ela surgiu o nome Progne, que designa o gênero de aves a que pertence a andorinha-azul.

O nome específico da espécie também tem origem lá no passado. No século 1 antes da nossa era, em Roma, o professor Nigidius Figulus escreveu sobre a presença de um tipo especial de aves na Etrúria, uma antiga região da Itália. Segundo ele, tais aves, chamadas subis, quebravam os ovos das águias. Por que elas faziam isso? Nigidius nunca contou. A mesma história foi repetida anos depois por outro romano, Plínio, “O Velho”.

As andorinhas-azuis, como sabemos, não quebram os ovos de águias, nem vivem na Itália, mas acabaram batizadas com o nome da misteriosa ave descrita por Nigidius e hoje em dia os cientistas de todo o mundo as chamam de Progne subis.

Condominio de andorinhas

As andorinhas gostam de se abrigar em encostas, ocos, cavernas e até casas abandonadas. Os indígenas brasileiros deram-lhes o nome “taperá”, que quer dizer “morador das ruínas” ou “aquele que sai das ruínas”. Hoje, é comum em muitas cidades dos Estados Unidos, onde as andorinhas-azuis se reproduzem, encontrar “condomínios” construídos especialmente para elas se abrigarem com bastante conforto (Foto: Wikimedia Commons / CC-BY-2.0)

Agora que você já sabe a curiosa história do nome das andorinhas-azuis, fique atento ao final do inverno e à chegada dessas viajantes charmosas. Quem sabe elas vão passar voando sobre sua casa e descansar próximo à sua cidade?