Naquele domingo de tarde não tínhamos nada para fazer. Lá estávamos os amigos de sempre: Manoelzão, Neném, Lula e Zequinha. Mesmo debaixo da grande mangueira, o calor deixava-nos malemolentes e sem uma percepção muito objetiva do que aconteceria no minuto seguinte.
Lula, com suas idéias, geralmente no mundo da Lua e que sempre nos metiam em grandes enrascadas, perguntou:
– “Vocês sabiam que é possível fazer uma tinta invisível?” E logo perguntamos, ao mesmo tempo: – “Tinta invisível? Como se faz isso?”
A tinta era até bem simples, bastava pegar o suco de um limão e misturar com um pouco d’água. Depois, com um palito, escrevíamos numa folha de papel branco e deixávamos secar. Para ler a mensagem invisível, bastava colocar o papel ao sol ou próximo a uma lâmpada que lá estaria o texto que tínhamos escrito.
Como para Lula não bastava preparar uma tinta invisível, ele sugeriu:
– “E se passássemos a tinta invisível pelo corpo? Será que ficaríamos também invisíveis?”
Sem pestanejar e de imediato, começamos a preparar a poção que nos levaria à imortalidade da ciência moderna: os primeiros seres humanos a ficar invisíveis. Para tanto, precisávamos de muitos limões, os quais foram rapidamente espremidos. Nem misturamos a poção com água para que ficasse muito mais forte. Imagine o perigo! Por fim, Lula sugeriu um acréscimo na fórmula:
– “Vamos misturar também um pouco de titica de galinha. Assim ficaremos invisíveis e ninguém saberá de onde vem o fedor que os persegue!”
Ideia aceita de imediato: suco de limão e titica de galinha. Tudo junto e bem misturado. Em seguida, passamos nos rostos, nos braços e nas pernas. E saímos ao Sol para testar o efeito que teria sobre nossos rivais.
Como seria bom se realmente pudéssemos, por vezes, ser invisíveis. Contudo, existem algumas situações em que é possível saber que seres vivos habitaram um local há milhões de anos mesmo que seus fósseis não estejam visíveis. Mas como assim? De que forma ficaram invisíveis?
Tratam-se dos chamados fósseis químicos. Quando morrem, os organismos se decompõem por completo. Suas partes moles, esqueleto, ou até mesmo a impressão que poderia ter sido deixada no sedimento, desaparecem. Porém, ao se decompor, fica o registro dos elementos químicos que faziam parte de seu corpo e algumas substâncias químicas e suas quantidades caracterizam certos grupos de animais e plantas.
Desta forma, conhecendo-se a composição química de uma rocha, podemos interpretar os organismos que foram soterrados ali, mas que não conseguiram se preservar como fósseis. Podemos dizer que são como organismos invisíveis que conhecemos apenas por meio dos resíduos químicos que deixaram ao morrer.
E quanto a mim, Manoelzão, Neném, Lula e Zequinha? No início, todos que por nós passavam viravam o rosto e rapidamente se afastavam. Estávamos invisíveis, verdadeiros fósseis químicos! Logo percebemos que estávamos cada vez mais e mais visíveis, além de, é claro, mais fedidos.
O suco de limão em contato com a luz solar queima e escurece a pele. Primeiro, ficamos amarelados, em seguida acastanhados e ao final pretinhos como um tiziu! Certamente uma combinação perigosa que você não deve repetir, pois nem mesmo o mais resistente dos seres vivos conseguiria desta forma sobreviver em sua longínqua pré-história!