Minha preferência pelas frutas, quaisquer que sejam, começou há muitos e muitos anos, no quintal de minha avó Chiquinha. Caminhar pela terra batida, geralmente recoberta por folhas, era uma experiência inesquecível para os sentidos. Os cheiros, as cores e as texturas ultrapassavam os limites do muro que cercava o lugar.
Por um capricho de minha avó, o quintal somente possuía frutas cítricas, tais como a tangerina, o limão, o tamarindo e a acerola. Porém, eram as variedades de laranja que dominavam em seu pomar: laranja-da-terra, laranja-lima, laranja-bahia, laranja-seleta, laranja-pêra e a pequenina laranja japonesa, da qual até a casca era comida. E lá também havia a que mais sucesso fazia: uma frondosa lima-da-pérsia, a imperatriz das laranjas.
A primeira coisa a nos chamar a atenção era sua cor. Nem muito verde, nem amarela, mas com um brilho semelhante ao de um besouro. Já o perfume exalado pela lima-da-pérsia era estonteante. E o gosto? Azedo, doce e amargo, tudo em uma só fruta e de uma única vez. Entretanto, o mais inesperado era quando a salpicávamos com sal e sentíamos a explosão dos sabores em nossas papilas gustativas!
Seria o sal ou a própria laranja a nos revelar outro de seus mistérios?
Não há dúvidas de que o sal é sempre importante para nós. Nada pior do que uma comida com muito sal – ou, então, sem sal algum. Entretanto, existem muitos tipos sais que podem fazer com que uma simples pedrinha seja tão amarga como o maior dos desgostos.
Os sais são minerais, a maioria formada em ambientes áridos onde já existiram lagos ou mares, mas que, agora, recebem pouca água dos rios. O contínuo evaporar destas águas resulta nos evaporitos – rochas que se originam da precipitação dos elementos químicos enquanto a água foge em direção às distantes nuvens.
Alguns dos maiores depósitos deste tipo de rocha sedimentar formaram-se no período inicial de separação da América do Sul e da África há mais de 150 milhões de anos. Em grandes lagos, num clima muito quente e seco, com chuvas eventuais, desaguavam poucos rios. Assim, ocorria a deposição de centenas de metros de camadas de sal, que progressivamente tornavam esses lagos cada vez mais salgados, com águas parecidas com as de um mar.
Em ambientes como esse, muitos e muitos sais podem se originar. O mais conhecido é a halita, o mesmo sal que utilizamos em nossas cozinhas. Porém, há outros, cada qual com uma composição química diferente, como a gipsita, dolomita, taquidrita, silvita e a carnalita. Estas duas últimas têm uma cor avermelhada e um gosto terrivelmente amargo. Nem um pouco apropriados para o tempero de uma salada.
Mas não é só na cozinha que os sais são importantes. Eles podem também ser utilizados como fertilizantes, na fabricação do cimento e cerâmicas, e até mesmo em medicamentos.
Por isso, as pedras, nem que sejam as de sal, têm gostos variados: muito ou pouco salgadas, amargas ou não, e, por vezes, levemente adocicadas. Todavia, sempre tão inusitados como as da lima-da-pérsia do quintal de minha avó, cujos mistérios se escondiam em suas cores e sabores.