A banana e o castigo

Dona Terezinha era a professora mais linda, mais inteligente, mais simpática, mais… mais cheirosa! Éramos todos apaixonados por ela. Com meus cinco anos eu já sabia ler, escrever, contar até 1.000, somar e subtrair. E era, é claro, um fã de nossa amada professora.

Este que está na foto sou eu com meus cinco anos. Ler, escrever e contar até 1.000 eram moleza para mim. (foto:Pedro Braile)

Este que está na foto sou eu com meus cinco anos. Ler, escrever e contar até 1.000 eram moleza para mim. (foto:Pedro Braile)

Meu sonho era ser auxiliar de dona Terezinha. Carregar seus livros, ler a tarefa do dia ou mesmo apagar o quadro negro. Se ela mandasse, eu imediatamente o faria.

Porém, as paixões sempre terminam um dia. Em meu caso, o início do fim foi uma banana. Isso mesmo. Uma banana bem madura que, colocada no fundo da mochila, causou uma grande lambança. Era banana pra tudo quanto é lado! Então, naquela quarta-feira ao meio dia e quarenta e cinco, eu tive que retirar todo o material escolar e colocá-lo em outra bolsa.

Ao chegar na escola, nossa amada professora pediu que apresentássemos a tarefa que ela havia passado para casa: um belo e caprichado mapa do Brasil, colorido a lápis. Eu havia me esmerado! Pintei cada um dos estados brasileiros de uma cor, com muito cuidado.

Mas, naquela hora, abri minha bolsa, procurei o mapa e neca de pitibiriba! Cadê o mapa? Procuro daqui e dali, e nada. Dona Terezinha, impaciente, batia o pé e a pequena vareta: “Ismar, Ismar não tripudie. Não adianta inventar que esqueceu o mapa”.

Eu balbuciava e gaguejava, mas do-do-do-na Tere-tere-zi… Nem deu tempo de terminar e a professora vociferou: “Direto para o cantinho! Agora! Já! Já! Já!”

A banana, responsável por minha primeira grande decepção: um mapa esquecido e o castigo imposto pela professora Terezinha. (foto: Deyvid Aleksandr Raffo Setti e Eloy Olindo Setti)

A banana, responsável por minha primeira grande decepção: um mapa esquecido e o castigo imposto pela professora Terezinha. (foto: Deyvid Aleksandr Raffo Setti e Eloy Olindo Setti)

O cantinho era o mais temido dos castigos. No meio do corredor, virado para uma grande coluna, ficávamos expostos a todos os que circulavam pelo colégio. Uma vergonha terrível. E tudo por culpa daquela maldita banana.

Mapa tão lindo, colorido com todo o carinho e esquecido em casa. Em casa, mas não de minhas memórias. Afinal, como geocientista, trabalho com mapas em meu dia a dia!

São muitos os tipos de mapas, todos muito importantes. Nos mapas geológicos, por exemplo, estão registrados os tipos e a idade das rochas. Suas múltiplas cores são um indicativo das características geológicas de uma região e podem servir como um bom indicativo para a existência ou não de fósseis.

Analisar os mapas geológicos é o que possibilita descobrir as plantas e animais fossilizados que existem em uma região. As cores deste tipo de mapa é que indicam o tipo e a idade das rochas. (imagem: (a href=http://sigep.cprm.gov.br/glossario/fig/ErasGeologicasBrasil_CPRM.htm)SIGEP(/a))

Analisar os mapas geológicos é o que possibilita descobrir as plantas e animais fossilizados que existem em uma região. As cores deste tipo de mapa é que indicam o tipo e a idade das rochas. (imagem: (a href=http://sigep.cprm.gov.br/glossario/fig/ErasGeologicasBrasil_CPRM.htm)SIGEP(/a))

No trabalho do paleontólogo, a primeira ação, antes de ir ao campo, é avaliar o melhor local onde podem ser encontrados os fósseis. Para isso, é necessário utilizar um mapa geológico e definir os locais onde existem rochas sedimentares, que são as que têm maior possibilidade de preservarem os restos de animais e plantas pré-históricas. Uma investigação inicial detalhada, procurando desvendar as áreas mais promissoras, faz toda diferença!

Ao final, o prêmio: descobrir o que ainda é desconhecido para a ciência. Veja esta grande costela de um dinossauro encontrada após a análise da geologia do rio Itapecuru, no estado do Maranhão. (foto: Manuel Alfredo Medeiros)

Ao final, o prêmio: descobrir o que ainda é desconhecido para a ciência. Veja esta grande costela de um dinossauro encontrada após a análise da geologia do rio Itapecuru, no estado do Maranhão. (foto: Manuel Alfredo Medeiros)

Acho que jamais me esqueci dos mapas, pois são eles que nos levam a caminhos seguros, a novas descobertas e a reencontrar o passado. É pelos mapas que podemos saber onde estamos e para onde vamos – mesmo que, no meio do caminho, tenhamos uma professora como dona Terezinha e uma banana!