A avó da câmera fotográfica

Em junho comentei como os astrônomos projetavam imagens para poder observar o trânsito de Vênus sem olhar diretamente para o Sol – o que poderia machucar muito seriamente os olhos deles. Muita gente ficou com a pulga atrás da orelha: como, afinal, podemos projetar uma imagem do Sol? É o que vamos descobrir hoje!

Uma maneira simples de fazer isso é pegar um tubo comprido e cobrir completamente uma das extremidades com cartolina preta e a outra com um papel vegetal liso. O passo seguinte é fazer, no meio da cartolina, um furo muito pequeno com a ajuda de um alfinete ou prego.

Câmara escura

Um pequeno furo em uma das faces da câmara escura deixa passar um feixe de luz, que projeta uma imagem invertida e espelhada do objeto desejado (Ilustração: Wikimedia Commons)

Apontando a extremidade com o furo para o Sol, você poderá ver uma pequena imagem da estrela projetada do outro lado, no papel vegetal – se você colocar o papel vegetal um pouco para dentro do tubo, em vez de posicioná-lo na extremidade, a imagem fica melhor ainda, pois as paredes do tubo ajudam a proteger o papel vegetal da luz externa.

Este tipo de arranjo em que um furo projeta uma imagem do outro lado de uma caixa, lata ou tubo, ou mesmo do outro lado de uma sala fechada, é chamado de “câmara escura”. Ele produz uma imagem não apenas do Sol, mas de qualquer objeto luminoso para o qual se aponte. De fato, pode-se mesmo projetar uma imagem da paisagem, especialmente se o dia estiver ensolarado.

O furo “filtra” a luz que vem de fora, deixando passar de cada ponto do objeto apenas um feixe estreito. Do ponto mais baixo do objeto vem um feixe que, ao passar pelo furo, bate na parte de cima do papel vegetal, enquanto, do ponto mais alto do objeto, entra na câmara escura um feixe que acaba batendo na parte de baixo do papel vegetal. A imagem obtida, portanto, aparece invertida, isto é, de cabeça para baixo, e também espelhada, pois o feixe que vem do lado esquerdo do objeto chegará ao lado direito do papel vegetal, e vice-versa.

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Câmara escura

Desde o Renascimento a técnica da câmara escura é usada para projetar imagens. Com o surgimento dos filmes sensíveis à luz, foi possível também fixar as imagens produzidas em papel, o que deu início à fotografia (Ilustração: Wikimedia Commons)

Câmaras escuras foram utilizadas na Europa durante o Renascimento – mais ou menos a época da descoberta do Brasil pelos portugueses. Naquele período, a propagação da luz em linha reta estava ajudando a estabelecer as regras da perspectiva no desenho e na pintura. Elas ajudaram a avançar não apenas as ciências, mas também as artes.

Já no século 19, quando o desenvolvimento da química e de filmes com materiais sensíveis à luz permitiu fixar a imagem projetada no papel, a câmara escura rendeu a invenção de uma das tecnologias mais revolucionárias de todos os tempos: a fotografia. Embora tenha se sofisticado muito de lá pra cá, a câmera fotográfica ainda pode ser entendida como uma câmara escura com uma lente na frente do furo.

Ainda hoje há quem use câmaras escuras para tirar fotos, só de curtição – a técnica é conhecida como pinhole camera (literalmente, “câmera de buraco de alfinete”). Confira algumas imagens feitas com essa técnica:

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Matéria publicada em 24.08.2012

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Beto Pimentel

O autor da coluna A aventura da física é apaixonado por essa ciência desde garoto. Hoje, curte também dar aulas e fazer atividades criativas em contato com a natureza e com as outras pessoas.

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