Biodiversidade em oito patas

Grandes, peludas, assustadoras. As aranhas-caranguejeiras, também conhecidas como tarântulas, dificilmente seriam escolhidas como os bichos favoritos de uma criança – confesse: você também acha que elas são feiosas? O que diria, então, de passar anos de sua vida procurando-as na floresta? Pois saiba que o biólogo Rogerio Bertani, do Instituto Butantan, resolveu dedicar-se ao estudo das aranhas-caranguejeiras e acaba de anunciar, de uma tacada só, a descoberta de nove espécies desse grupo.

Aranha-caranguejeira

Algumas espécies de caranguejeiras podem viver por décadas – há registros, em cativeiro, de animais que viveram 30 anos. Diferentemente de outras aranhas, elas não usam a teia para capturar presas, e sim para construir abrigos e proteger os ovos (Foto: Rogerio Bertani)

“Esse trabalho é resultado de mais de dez anos de pesquisa”, contou Rogerio à CHC. Ele explica que essas aranhas são pouco estudadas, tanto no Brasil como no exterior, e que há muito ainda a descobrir, especialmente em nosso país. “Temos uma riqueza de espécies muito interessante, com várias espécies novas e exclusivas do Brasil”, aponta.

Existem, no mundo, 2.700 espécies de aranhas-caranguejeiras, das quais cerca de 300 vivem no Brasil. Embora a maioria viva escondida em tocas escavadas no chão, debaixo das rochas ou troncos caídos, algumas ocupam árvores e outras plantas, como as bromélias, e são chamadas de arborícolas.

Estas são o objeto de estudo de Rogerio, que procurou espécies nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Ele descobriu parte das novas aranhas em coleções científicas de instituições de pesquisa. Outras, encontrou durante expedições a matas pouco exploradas. “Também recebi contribuições de pesquisadores que encontraram esses animais durante seu trabalho de campo e sabiam que eu estava trabalhando com eles”, completa.

Aranha-armadeira (à esquerda) e aranha-caranguejeira

Aranha-armadeira (à esquerda) e aranha-caranguejeira vistas por cima. A caranguejeira tem as quelíceras (ferrões) projetadas para frente, mas não é possível ver com clareza as quelíceras da armadeira (Fotos: Rogerio Bertani)

As espécies de tarântulas descobertas por Rogerio são típicas da Mata Atlântica e do Cerrado e podem ser divididas em três gêneros: Typhochlaena, Iridopelma e Pachistopelma. Do primeiro grupo, conhecia-se apenas uma espécie, e agora mais quatro foram descritas – todas aranhas pequenas, com cerca de dois centímetros de corpo.

Maiores, as caranguejeiras do gênero Iridopelma medem de 10 a 12 centímetros com as pernas esticadas. Na Mata Atlântica, elas costumam juntar duas folhas das árvores com fios de seda, formando uma espécie de casa onde vivem. Já em áreas onde há poucas árvores, elas vivem dentro de bromélias, assim como as espécies do gênero Pachistopelma. As espécies dos dois grupos nascem com a cor verde metálica e, depois de adultas, ganham aparência mais discreta.

Confira, na galeria abaixo, as nove espécies descobertas por Rogerio:

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O que diferencia as aranhas-caranguejeiras das outras aranhas é principalmente a posição dos ferrões (veja a foto). Enquanto as outras aranhas movem os ferrões um em direção ao outro em um movimento de pinça, as tarântulas mexem os ferrões de cima para baixo. Além disso, as caranguejeiras se destacam pelo tamanho – embora existam espécies pequenas, são caranguejeiras algumas das maiores espécies de aranhas do mundo. As maiores podem medir 26 centímetros da ponta da pata anterior até a ponta da pata posterior.

No Brasil, as espécies conhecidas de tarântulas não são consideradas perigosas – a única espécie que pode causar ferimentos graves em humanos vive na Austrália. Elas se alimentam principalmente de insetos e outras aranhas, mas podem comer pequenos vertebrados, como ratos, sapos, lagartos e filhotes de passarinhos.

Matéria publicada em 03.12.2012

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Catarina Chagas

Desde criança gosto de ler, inventar histórias e descobrir novidades. Cresci e encontrei um trabalho em que posso fazer tudo isso.

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