Um dia um garoto que adorava jogar bola me perguntou se a matemática era útil para o futebol. E eu disse:
– Claro que sim! Por exemplo, para contar os gols, os pontos no campeonato, entender as estatísticas do jogo, essas coisas…
Só que ele, com certa razão, não se animou com a minha resposta. A minha segunda tentativa para ligar matemática e futebol foi a história do enigma da camisa 9. E é essa história que eu quero contar aqui para você.
Um dos maiores jogadores de todos os tempos, o atacante Ronaldo Nazário, conhecido como Ronaldo Fenômeno ou Ronaldinho, foi jogar em um grande time italiano, a Inter de Milão. Os grandes centroavantes costumam usar a camisa 9. Só que essa camisa já tinha dono na Inter: era do chileno Iván Zamorano, um ótimo jogador e ídolo da torcida. O enigma da camisa 9 era o seguinte: como dar a camisa 9 para o Ronaldo, sem deixar o Zamorano magoado?
Como dois jogadores do mesmo time não podem usar o mesmo número, o problema não era tão simples, e Ronaldo passou um ano inteiro jogando com a camisa 10, à espera de uma solução. Até que o inteligente Zamorano teve a ideia de passar a jogar com a camisa 99. Essa seria uma forma de manter, e até duplicar, a poderosa marca do 9 para os atacantes.
Mas a federação italiana de futebol só permitia números de camisa do 1 ao 30. O esperto Zamorano, já usando a matemática, então pensou em usar um número tal que a soma dos dígitos fosse 9. Ele pensou no 18, já que 1+8=9, pensou também no 27, já que 2+7=9. No final das contas, acabou sugerindo o 18 para os chefes do clube.
E os chefes tiveram a brilhante ideia de colocar na nova camisa de Zamorano, não o 18, mas sim o 1+8. Seria a primeira vez que uma operação matemática, a soma, apareceria em um uniforme de futebol. É claro que a federação italiana não permitia tal coisa. Só que eles acharam a ideia tão bacana que, excepcionalmente, autorizaram o Zamorano a usar a camisa 1+8!
Resultado: Ronaldo ficou contente com a camisa 9 e Zamorano adorou a matemática em sua nova camisa, ele era o único 9 do mundo que era também 1+8.
Não sei se o garoto passou a achar a matemática mais interessante por causa dessa história, mas, pelo menos, no outro dia lá estava ele jogando com o 1+8, feito de esparadrapo nas costas da sua camisa.
Desafio: pesquise para saber se essa história é real ou inventada.
Pedro Roitman,
Instituto de Matemática,
Universidade de Brasília
Sou carioca e nasci no ano do tricampeonato mundial de futebol – para quem é muito jovem, isso aconteceu em 1970, século passado! Enquanto fazia o curso de Física na universidade, fui encantado pela Matemática. Hoje sou professor.
Matéria publicada em 26.11.2021