Um aniversário que merece ser lembrado


Em 2005, comemoram-se os 150 anos de nascimento do cientista brasileiro Adolpho Lutz. (foto: Biblioteca Virtual Adolpho Lutz).

Ele estudou de mosquitos a moluscos e de anfíbios a vermes. Investigou doenças como febre amarela e lepra. Como médico, tratou de pessoas doentes, mas nunca deixou de ser um pesquisador, buscando saber mais sobre moléstias que atingiam o homem e também outros animais. Descobriu espécies que até então eram desconhecidas. Viajou muito: o Brasil e o mundo. E se estivesse vivo, comemoraria, em 18 de dezembro de 2005, 150 anos. Estamos falando de Adolpho Lutz, um cientista brasileiro que muito contribuiu para a ciência – e que desde criança mostrou que veio ao mundo para investigar!

Nascido em 1855 no Rio de Janeiro, em uma família suíça, Adolpho Lutz desde cedo demonstrou interesse pela natureza. Em uma carta que escreveu à sua irmã, aos dez anos, ele já comentava o que vinha aprontando na época: “Mandamos fazer uma casinhola para lagartas e vamos criá-las, mas também vamos apanhar borboletas e esperamos obter muitas para nossa coleção. (…) Também queremos começar uma coleção de plantas secas, e precisamos de folhas e flores brasileiras secas (…).”

Quando escreveu essas linhas, Adolpho Lutz estava na Suíça, para onde seus pais haviam voltado quando ele tinha dois anos. Ninguém sabe por que eles tomaram essa decisão, embora tudo indique que foi por conta do surto de febre amarela, mas o certo é que o menino apenas colocaria novamente os pés em solo brasileiro aos 26 anos, já médico formado. Parece muito tempo para alguém viver longe do seu país, não é? Mas Lutz passou no Brasil a maior parte dos seus 85 anos de vida.

Aqui o médico teve um papel importante, por exemplo, no combate à febre amarela. Por volta de 1898, essa doença, causada por um vírus e transmitida por um mosquito, era o maior problema de saúde pública do país. Lutz avaliou a eficácia de soros e vacinas criados para curar ou prevenir a doença, reprovando vários. Contribuiu ainda para que a idéia de que a febre amarela era transmitida por mosquitos fosse aceita no Brasil. Como? Ele realizou aqui o experimento que levou os cientistas a essa conclusão e que foi importante para acabar com as dúvidas sobre a doença e permitiu o seu combate.

Outra doença pela qual Lutz se interessou durante toda a vida foi a hanseníase. Também conhecida como lepra, ela é causada por uma bactéria, que se aloja e se multiplica dentro das células que formam a pele e os nervos, fazendo com que algumas áreas do corpo percam a sensibilidade ao toque, à dor e ao calor.

Lutz trabalhou com essa doença em uma época em que a pessoa que tinha hanseníase sofria muito preconceito, pois, em alguns casos, a moléstia deixava o doente aleijado, algo que dificilmente ocorre hoje. O cientista tratou centenas de vítimas de lepra no Brasil, estudou e cuidou de doentes no Havaí e, na Alemanha, investigou a bactéria que causa a doença. Esteve sempre a par das descobertas feitas sobre a doença, organizou eventos em que os cientistas reuniam-se para discuti-la, debatia as questões ligadas a ela, trocou idéias com especialistas do mundo todo… Por isso, tornou-se uma autoridade no assunto: a pessoa que mais sabia sobre a doença no país.

A rã Paratelmatobius gaigeae (à esquerda) foi descoberta por Adolpho Lutz em 1931 na Serra da Bocaina, que fica na divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo. Já a Paratelmatobius lutzii (direita) ganhou esse nome em homenagem ao cientista. Fotos: Alberto Carvalho (esq.) e Ivan Sazima (dir.)

Lutz também foi o primeiro cientista a estudar em detalhe o ciclo de vida do Schistosoma mansoni , verme que causa a esquistossomose, doença também conhecida como barriga d’água, por provocar o aumento do abdômen do doente. Foi ele ainda quem descobriu dezenas de espécies de animais, entre rãs, pererecas, sapos, mosquitos e escorpiões. Foi, enfim, um pesquisador e tanto, que, neste mês em que completaria 150 anos, merece ser lembrado e assim receber os nossos parabéns!