Você sabe o que é folclore? A palavra tem origem inglesa e significa “sabedoria do povo”. São tradições e costumes passados de geração em geração, que são lembrados e festejados neste dia. Lendas, como a da mula-sem-cabeça; provérbios, como “mais fácil ter um pássaro na mão do que dois voando”; canções, como “Atirei o pau no gato” e muito mais, quem não conhece? Sabedoria que nunca morre, pois está guardada na mente de cada um de nós. Quer um exemplo de folclore? Os indígenas, que fazem parte do povo brasileiro, conhecem muitos mitos, que viraram contos fantásticos da nossa literatura. A CHC online separou um só para você conhecer. Confira:
Boitatá
Esse fato aconteceu há muito tempo. Lá pelas bandas do sul do Brasil.
Houve uma noite tão comprida que parecia não ter fim. Noite escura como o breu. O céu sem vento e um frio de rachar.
Naquela escuridão fechada, ninguém tinha coragem de cruzar o campo. Só se ouvia o som dos bichos. Fora isso, tudo mais era silêncio.
Lembro que na última tarde que houve sol, desabou depois uma chuva tremenda, que levou um tempão. Os campos foram inundados e as lagoas transbordaram.
Os animais tiveram que se desvencilhar do aguaceiro e sair de suas tocas inundadas a procura de novo abrigo.
O Boitatá acordou…
A água entrou na toca do monstro, que tem olhos de fogo e corpo transparente de cobra, e de onde dá pra ver os olhos das vítimas que já comeu.
Enquanto está solto nos campos, não há dia porque ele rouba a luz do sol para iluminar seus olhos flamejantes.
Ele vai deslizando pelo mato com seu corpo que não tem pelos como o boi, nem escamas como o peixe, nem penas como as aves, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta. Vai com seu corpo transparente, transparente, clareando o caminho.
É por isso que todos estão tristes na noite sem brisa, esperando de novo a luz do sol. Só quando o boitatá termina seu passeio, depois de seu sono demorado, é que o dia aparece de novo.
A luz vem assim, de supetão. Primeiro vai diminuindo o escuro do céu, que vai ficando mais claro, deixando escapar as estrelas. Até que a luz toma conta de tudo novamente.
O Boitatá voltou a dormir…
Dizem que quem encontra o boitatá pode até ficar cego… Quando alguém topa com ele só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar até ele ir embora; ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirá-la em cima, e galopar, trazendo o laço de arrasto, com o boitatá acompanhando.
Mas, de repente, o monstro se desmancha, vira farinha de luz.
Campeiro precavido reúne seu gado e vai para longe da mira do boitatá.
O Boitatá é personagem do folclore brasileiro e sua lenda é contada há séculos. As lendas sobre ele variam conforme a região. Em alguns estados, ele é tido como protetor das matas; em outros, causa os incêndios na floresta. No sul do Brasil, ele rouba a luz do dia, como conta João Simões Lopes Neto na obra Lendas do Sul, de domínio público, que foi livremente adaptada pela CHC.