Em busca da cidade esquecida

O Rio de Janeiro se prepara para comemorar os 450 anos de sua fundação, em 1º de março de 1565. Ligados no calendário, os primos Paulo, Aninha, Tiago e João resolveram fazer uma pesquisa sobre a história da cidade maravilhosa e pediram a ajuda de seus avós, cariocas de coração.

Eles adoraram o convite! Começaram a tirar da gaveta envelopes antigos, mexer em caixas e álbuns de retratos, já amarelados pelo tempo. A avó tomou a palavra:

– Vamos embarcar numa máquina do tempo e conquistar uma cidade esquecida! Todos prontos para o passeio?

Desceram até a rua e a avó anunciou que a máquina estava chegando.

– Mas, vovó, eu só vejo um ônibus!

– Isso é porque você ainda não aprendeu a usar os olhos da imaginação, Tiago. Suba logo que esse ônibus vira máquina do tempo num instante. É só querer!

Praia de Botafogo em 1906. (foto: Augusto Malta, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)

Praia de Botafogo em 1906. (foto: Augusto Malta, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)

– Muito bem, meninos! – começou o avô. – Estamos em 1896… Temos que descobrir como era a Cidade do Rio de Janeiro naquela época. Sabem, era um tempo muito diferente. Não existiam automóveis: as pessoas andavam de bondes puxados por burros. As crianças podiam brincar na rua sem medo. Os homens andavam de fraque e cartola, as mulheres usavam vestidos compridos e saíam pouco de casa. Vejam esta casa: esta aí há mais de 100 anos.

Os primos se viraram para a janela do ônibus, que já tinha virado de vez a máquina do tempo, e observaram um casarão na Rua Voluntários da Pátria, número 423. Já tinham passado ali muitas vezes, mas, pela primeira vez, repararam na casa de dois andares, com janelas imensas, no meio de um jardim. A avó continuou:

– Pois é. Naquele tempo, Botafogo era o bairro elegante do Rio e, nas ruas São Clemente e Voluntários, havia muitos palacetes como este. Nas ruas transversais, as casas eram menores, sobrados mais simples. Nas ruas mais afastadas, ficavam os cortiços, casas coletivas onde moravam os mais pobres.

Morro do Castelo, derrubado em 1922. (foto: Augusto Malta, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)

Morro do Castelo, derrubado em 1922. (foto: Augusto Malta, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro)

– Isso mesmo! – disse o avô. – O Rio de Janeiro tinha dentro dele muitas cidades: a cidade dos elegantes, que passavam férias em Petrópolis; a cidade dos imigrantes portugueses, que trabalhavam no comércio; a cidade dos negros, ex-escravos que, agora livres, continuavam a trabalhar duro e reinventavam os ritmos africanos ao som dos atabaques.

O ônibus/máquina do tempo deixou-os na Praça 15. Até o início do século 20, era ali o centro da vida da cidade. O Rio era, então, uma cidade bem pequena, com ruas tortuosas e espremidas entre quatro morros: o Morro do Castelo, onde a cidade nascera, o Morro de Santo Antônio, o Morro de São Bento e o Morro da Conceição.

Diante dos olhos dos meninos, estavam detalhes que sobraram da cidade colonial: o arco do Teles, o chafariz do mestre Valentim, o palácio dos vice-reis – que hoje conhecemos como Paço Imperial. E podiam imaginar, com a ajuda de fotografias e desenhos que a avó mostrava, como era a praça no passado. Tão diferente!

Obras para a construção da Avenida Central em 1905. (foto: Augusto Malta, Arquivo Histórico, Museu da República)

Obras para a construção da Avenida Central em 1905. (foto: Augusto Malta, Arquivo Histórico, Museu da República)

Sentaram-se nos bancos e puseram-se a ouvir o avô contando que, entre 1903 e 1906, o Rio de Janeiro teve um prefeito que resolveu transformar a cidade colonial numa metrópole moderna. Pereira Passos, como se chamava, acreditava que a cidade precisava de uma grande reforma para ficar parecida com Paris.

– Esse prefeito contratou engenheiros que fizeram um projeto de uma nova avenida, muito larga para a época. Vocês querem conhecê-la? É antiga Avenida Central, hoje chamada Rio Branco!

Entraram pela Rua 7 de Setembro. Tiago estava impressionado com a história do prefeito que decidira transformar o Rio, então, o avô continuou a história.

– Muitas pessoas que viviam em pequenas ruazinhas no centro da cidade tiveram que deixar suas casas, assim como os moradores dos cortiços, que foram abaixo em nome do progresso. Um pouco mais tarde, também ficaram sem casa as pessoas que viviam no Morro do Castelo, demolido em 1922. Essas pessoas procuraram novos lugares para morar, e parte delas mudou-se para as primeiras favelas, que começavam a subir os morros de alguns bairros da cidade.

Avenida Rio Branco. (foto: Augusto Malta)

Avenida Rio Branco. (foto: Augusto Malta)

Tinham chegado à Avenida Rio Branco. Visitaram a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes, o Teatro Municipal, todos construídos na época da reforma. Tinham mesmo a impressão de estar viajando no tempo e, ao olhar a cidade, podiam imaginar a vida dos que viveram muito antes deles!

(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 63.)

Nossos protagonistas de hoje viajaram pelo Rio de Janeiro do início do século 20. Se você também pudesse entrar numa máquina do tempo e visitar a cidade no passado, que época escolheria? Como seriam a vida na cidade, as casas, as ruas? Pesquise e exercite a imaginação! Não se esqueça de enviar para nós o resultado: escreva para chc@cienciahoje.org.br