Arte que veio da rua

Dê uma olhada no quadro ao lado. O que você vê?

Essa pergunta foi feita a crianças e jovens dos Estados Unidos. E o que não faltou foram respostas diferentes!

“É um rádio, mas como as pessoas não gostaram do que estavam ouvindo, elas cortaram o fio”

“Estão enfiando as pessoas nesse treco.”

“Como você sabe que estão enfiando ele na máquina? Acho que estão tirando ele de lá!”

E você? O que acha que Keith Haring, o norte-americano que pintou essa obra, quis mostrar?

Em 1989, um artista chamado Keith Haring pintou esse quadro. O que você acha que os desenhos querem dizer? (imagens: Keith Haring Foundation)

Fazendo arte no metrô de uma grande cidade

Keith Haring nasceu em 4 de maio de 1958, em Reading, uma pequena cidade do estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Filho mais velho da família, tinha três irmãos.
Se você nunca ouviu falar nesse artista, saiba que ele adorava passar as férias no Brasil, curtia muito a companhia de crianças e fez algo muito importante: contribuiu para que as pessoas passassem a perceber que a arte pode estar nas ruas, e não apenas nos museus.

Como ele fez isso? Ah, para explicar essa história do começo, é preciso dizer que Keith começou a desenhar ainda na infância, incentivado pelo pai, que o estimulava a copiar personagens como Mickey e Snoopy. Já adulto, não deixou de ser um pouco criança: afinal, continuou a desenhar e, aos 20 anos, foi estudar na Escola de Artes Visuais da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Lá, Keith descobriu que queria ser um artista diferente: ele desejava mostrar os seus quadros não apenas para as pessoas que já tinham o hábito de visitar museus ou colecionar obras de arte. Sua vontade era que todos pudessem vê-los.

Por conta disso, na companhia de dois amigos, o jovem começou a fazer desenhos bem simples com giz – muito mais barato do que a tinta spray, usada pelos pichadores – nas estações de metrô. Eram cães que latiam, pirâmides, bebês, discos voadores…

Keith Haring nasceu em 4 de maio de 1958, em Reading, uma pequena cidade do estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Filho mais velho da família, tinha três irmãos.

“Ele queria que a sua obra fosse acessível e, por isso, fez muitos trabalhos nas ruas de Nova Iorque”, conta Sharon Battat, que organizou uma mostra sobre o artista, que esteve em cartaz no Rio de Janeiro, em 2010: Keith Haring – Selected Works (Obras Selecionadas).

De 1980 a 1985, o jovem norte-americano criou muitos desenhos pela cidade e começou a ficar conhecido entre os nova-iorquinos, que muitas vezes paravam para vê-lo fazendo seus desenhos. Keith só não fazia sucesso com a polícia: chegou a ser preso sob a acusação de estar destruindo o patrimônio público. Mas, com seu trabalho, acabou fazendo com que as pessoas passassem a olhar de uma forma diferente para os desenhos e inscrições feitas nas ruas, o chamado grafite. Em vez de vandalismo, mostrou ele, aquilo poderia ser arte.

À vontade entre os pequenos e no Brasil

O trabalho de Keith Haring, porém, não agradava apenas aos adultos. Crianças como você eram suas maiores fãs. E vice-versa! Afinal, quando foi convidado para fazer um painel para comemorar os 100 anos da Estátua da Liberdade, o artista convidou meninos e meninas para auxiliarem na tarefa. No final, contou com 900 ajudantes mirins. “Em seu diário, Keith também escreveu que, certa vez, estava numa festa e preferiu se sentar na mesa em que estavam as crianças, pois se sentia mais à vontade com elas”, revela Sharon
Battat.

Keith Haring com crianças brasileiras em Ilhéus, na Bahia.

Como veio ao Brasil cinco vezes, Keith Haring também conheceu as crianças brasileiras. Não chegou a trabalhar com elas, mas quem disse que não fez arte por aqui? Na primeira vez em que esteve em nosso país, em 1983, o artista participou da Bienal de Artes de São Paulo e fez um enorme desenho em um muro da cidade, uma obra que já não existe mais. Quando vinha ao Brasil, porém, ele costumava ficar longe das metrópoles. Em geral, seguia para a cidade de Ilhéus, na Bahia, onde vivia um de seus grandes amigos do tempo da escola de artes visuais, que havia se casado com uma brasileira. “O Brasil era um lugar onde ele se sentia bem”, conta Sharon Battat.

Pirâmides, discos voadores e figuras humanas sempre apareciam nas telas do artista norte-americano.

É provável que Keith ainda voltasse muitas vezes ao nosso país, se, em 1988, ele não tivesse descoberto que tinha AIDS, uma doença sem cura, causada por um vírus que ataca o sistema de defesa do organismo. Em menos de dois anos, essa moléstia causaria a morte do artista, que faleceu no dia 16 de fevereiro de 1990. Em seus quadros, porém, cães continuam latindo, bebês engatinhando, naves espaciais decolando e figuras se abraçando…


Na estante
Quer saber mais sobre Keith Haring? Uma ótima pedida são dois livros da editora Cosac Naify. Ah, se a gente não precisasse dormir (preço sugerido de R$ 45) conta um pouco sobre a vida do artista e mostra como crianças de diferentes idades descrevem seus quadros. Já O livro da Nina para guardar pequenas coisas (preço sugerido de R$ 49) foi criado pelo próprio Keith Haring como um presente para a filha de um amigo. Nele, o artista estimula a criatividade de Nina – e agora a sua –, incentivando que as páginas do livro sirvam para ler, desenhar, costurar, grampear… Enfim, o que a imaginação mandar!