Beija-flores: balé no ar

Eles são exibidos, inventam piruetas, vão de um lado para o outro numa velocidade incrível, conseguem parar no ar e até voar para trás. Temos a impressão de assistir a um balé. A única diferença é que os atores desse espetáculo não têm pernas e braços e sim asas. Estamos falando dos beija-flores!

Durante o dia, dificilmente eles pousam para descansar. O rápido bater das asas e as acrobacias durante o vôo fazem com que os beija-flores gastem muita energia. Eles a repõem se alimentando: quando dizemos que estão beijando as flores, na verdade estão sugando o néctar, uma substância açucarada que fica no cálice das flores e é a refeição favorita dessas pequenas aves.

Aliás, pequenos só no tamanho, porque seu apetite é enorme. Até que fiquem satisfeitos, visitam várias flores e ainda caçam pequenos insetos e aranhas. Buscando alimento em uma flor e outra, os beija-flores sem querer levam no bico e nas penas alguns grãos de pólen. Ao pousarem em flores da mesma espécie, esses grãos podem cair dentro do cálice delas e fecundá-las, formando uma nova semente: é o processo da polinização.

E quem vê os beija-flores fazendo estripulias no ar nem imagina que cada um tenha seu próprio território determinado pela área de alimentação. Pobre do beija-flor que invadir o espaço do outro. Vai precisar de muita coragem para enfrentar um a briga feia, porque entre eles o lema é “amigos, amigos, territórios à parte”!

Você sabia que os beija-flores enxergam as cores como os humanos? Dizem por aí que eles preferem as flores vermelhas. Mas isso não é verdade! Sua preferência está ligada à flor que existe em maior quantidade no local em que estão. Se em um lugar há mais flores vermelhas, é claro que eles vão visitar mais flores vermelhas. Se há mais flores brancas, vão visitar mais as brancas. Olhando para determinada flor podemos dizer que ela é amarela com um pouco de branco, por exemplo. Os beija-flores enxergam da mesma forma que nós e até um pouco mais! Eles conseguem notar a luz ultravioleta, que passa despercebida aos olhos humanos. Ao refletir nas flores, essa luz permite que os beija-flores sejam capazes de detectar pequenas variações no tom das flores e associar a alteração de cor a uma maior ou menor produção de néctar.

Em sua área, o beija-flor não só se alimenta, mas também toma banho em córregos, na chuva ou nas folhas molhadas pelo orvalho. Depois, ele se seca ao sol e, à noite, abriga-se nas folhagens para dormir. Nas noites muito frias, a temperatura de seu corpo diminui e ele descansa totalmente imóvel. Esse fenômeno é chamado hibernação.

Para conquistar uma namorada, o beija-flor macho exibe sua plumagem colorida e brilhante, fazendo muitos malabarismos. Geralmente, essa espécie inicia a reprodução na primavera. É a fêmea que constrói com palha e paina, como são chamados os fios que envolvem algumas sementes, um ninho confortável e quentinho em forma de tigela. Para que o berço de seus filhotes não se desfaça, a mãe costura tudo com teia de aranha e saliva. Depois disso, ela está pronta para colocar seus ovos, normalmente dois, e cuidar dos filhotes até trinta dias depois do nascimento, alimentando-os com insetos e néctar.

Os beija-flores podem viver de cinco a oito anos, mas saiba que eles se encontram ameaçados pela destruição de seus ambientes naturais. Nas cidades, o plantio de flores ricas em néctar, como hibiscos e gravatás, e o uso de garrafinhas com água açucarada em parques e jardins são medidas simples que permitem a presença de um beija-flor. Se você quiser receber uma visita dele, basta ter uma dessas garrafinhas penduradas na varanda da sua casa ou até mesmo na janela do seu quarto. Anote aí a receita: misture de quatro a seis partes de água com uma parte de açúcar não refinado. A cada dois dias, jogue fora a mistura anterior, lave a garrafinha e prepare uma nova.

Expedição grava imagens inéditas e sons de beija-flores
Cientistas pretendem encontrar novas espécies e proteger as ameaçadas de extinção

A Expedição Colibris, realizada em março, localizou e estudou beija-flores típicos do Brasil. A equipe responsável pelo trabalho registrou imagens inéditas e sons dessas aves fundamentais para a manutenção dos ecossistemas. Um dos objetivos do grupo era reunir dados que possam ajudar a preservar os colibris (como também são chamados esses pássaros), pois muitos correm hoje risco de extinção. Os pesquisadores pretendiam também documentar algumas espécies ainda desconhecidas de beija-flores.

Na primeira etapa da expedição, especialistas percorreram trechos da floresta da Estação Biologia Marinha Ruschi, no Espírito Santo. “Conseguimos imagens inéditas do ninho da rara espécie de beija-flor Phaethornis idaliae “, conta o ecólogo André Ruschi, diretor da Estação e um dos coordenadores da pesquisa. O P. idaliae está ameaçado de extinção, o que pode ter conseqüências graves para todo seu ecossistema. Essa ave é a principal responsável pela polinização de bromélias terrestres, que correspondem ao hábitat do caranguejo azul. “Se o beija-flor desaparecer, a reprodução das bromélias ficará prejudicada e o caranguejo, sem proteção, virará uma presa fácil e poderá ser extinto”, explica Ruschi.

Em seguida, a equipe viajou pela Chapada Diamantina, na Bahia. “Colibris nunca antes filmados na natureza, como o Augastes lumachellus (beija-flor-de-gravata-roxa) e o Heliactin cornuta (chifrinho-de-ouro), foram registrados por nossa equipe”, comemora Ruschi. “O H. cornuta é a espécie mais rápida de beija-flor: ele chega a atingir 60 quilômetros por hora.”

Sons e imagens foram registrados com equipamentos modernos, capazes de gravar o canto dos beija-flores com o máximo de fidelidade e filmar as aves bem de perto. O registro dos sons foi feito pelo ornitólogo Jacques Vielliard, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Já as filmagens ficaram sob responsabilidade dos franceses Gregory e Ariane Guida. Participaram ainda da Expedição Colibris a neurocientista Maria Luisa da Silva, da Universidade de São Paulo, e os franceses Lily e Henry Quinque, especialistas em reprodução de animais em extinção.

“Na Chapada Diamantina, uma de nossas intenções era localizar o Colibri delphinae greenewalti — que não é registrado há 25 anos –, mas não o encontramos desta vez”, lamenta Ruschi. Os pesquisadores querem realizar outras expedições. “Pretendemos identificar as espécies mais ameaçadas e tomar medidas adequadas para protegê-las, como parcerias com órgãos públicos, incentivos à criação de reservas ambientais, cursos e arrecadação de fundos para pesquisas.”