O brasileiro Jefferson Cardia Simões está pronto para entrar numa fria: ele está a caminho do lugar mais gelado da Terra: a Antártica, onde, no verão, a temperatura varia entre 35 e 40 graus Celsius negativos. Brrrrrrrr!
Você deve estar se perguntando: mas por que viajar para um lugar tão hostil? Ora, para desvendar o que está escondido naquele gelo todo! “O gelo antártico guarda uma rica história do clima, do ciclo hidrológico e da atmosfera do planeta”, conta o pesquisador, do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Vamos coletar amostras e analisá-las para descobrir como a atmosfera chegou às condições em que se encontra hoje, além de fazer previsões sobre o futuro do manto de gelo antártico.”
As geleiras e mantos de gelo são formados por neve acumulada na forma de camadas horizontais. Ao cair, a neve carrega uma série de impurezas presentes na atmosfera, transformando-se em gelo por causa da pressão das camadas que já haviam sido depositadas. Como o gelo não derrete, a seqüência anual das camadas e sua composição química é preservada.
Os pesquisadores, então, fazem perfurações no gelo e retiram amostras de diversas camadas. “Os ‘testemunhos de gelo’ contam, entre outras, histórias sobre a poluição global e as atividades vulcânicas e biológicas do planeta e suas variações ao longo do tempo”, explica Jefferson, que é glaciologista, ou seja, especialista em geleiras e glaciações e seus respectivos efeitos sobre a topografia ‐ as formas e as dimensões ‐ do planeta. Ele explica também que esse tipo de pesquisa pode ajudar na avaliação do impacto do aquecimento global sobre as geleiras e suas conseqüências para diversas partes do mundo ‐ o aumento no nível dos mares, por exemplo.
O gelo antártico ‐ equivalente a 90% de todo o gelo do planeta ‐ ocupa cerca de 14 milhões de quilômetros quadrados e sua espessura pode atingir cinco quilômetros. Com essas medidas, ganha o título de maior fonte de água potável da Terra ‐ 25 milhões de quilômetros cúbicos! Para você ter uma idéia, se ele derretesse, o nível dos mares subiria nada menos que 60 metros, causando danos às populações que vivem no litoral dos diversos continentes.
“Hoje, sabemos que isso não pode ocorrer”, diz Jefferson. “Por outro lado, o Programa das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas prevê o aumento do nível do mar de, no mínimo, 20 centímetros e de, no máximo, 80 centímetros até o ano 2100.” O preocupante é que a variação da área do gelo antártico, com o seu derretimento, causa mudanças na temperatura de todo o Hemisfério Sul.
Essa é a primeira vez que o Brasil faz uma missão terrestre no interior da Antártica para atingir o Pólo Sul Geográfico (o ponto fixo onde o eixo de rotação da Terra cruza a superfície do planeta). A expedição está sendo organizada pelo Chile e a experiência dos cientistas brasileiros será importante para desenvolver novas tecnologias e planejar missões nacionais no interior da Antártica, inclusive uma travessia totalmente brasileira prevista para 2007. Mas essa já é outra história. Por hora, aguardamos a volta dos pesquisadores, em janeiro!