Dor de dente na aldeia?

Quando bate aquela dor de dente, já sabemos do que se trata: cárie! Afinal, todos os povos, de qualquer parte do mundo, podem sofrer desse mal, que aparece por causa de microrganismos que há na boca. Eles se alimentam dos restos de comida deixados nos dentes e, nesse processo, geram ácidos, que os destroem, criando as cáries.

Crianças Xavante, em aldeia no interior do Mato Grosso. Esses índios tiveram seus dentes examinados por um pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (fotos: Rui Arantes).

Para não enfrentar esse problema, é preciso cuidar da saúde da boca. A receita é simples – e tenho certeza de que você conhece: ir ao dentista, escovar os dentes, passar fio dental… Pudera! Na nossa sociedade, tudo isso já é natural, pois é algo que aprendemos desde pequenos. Mas você já se perguntou se os índios, vivendo no meio da mata e com hábitos diferentes, têm cáries?

O dentista Rui Arantes levantou essa questão e foi atrás da resposta. Para saber como anda a saúde bucal dos povos indígenas, ele percorre, desde 1997, várias aldeias dos índios Xavante, no estado do Mato Grosso. A partir disso, escreveu um trabalho para a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Rui examinou os dentes dos índios e fez um levantamento de casos de dentes cariados ou perdidos e doenças da gengiva. Ele constatou que, nas áreas em que os índios tiveram mais contato com a sociedade não-índia, transformando seus hábitos de vida, a população apresentava mais cáries. Já os indígenas que, apesar do contato com outra sociedade, preservaram sua tradição tinham menor índice da doença.

“Por tradição, os xavantes praticavam a caça e a coleta de frutos e raízes, cultivavam milho, feijão e abóbora”, conta Rui. “Mas a alimentação mudou em algumas aldeias quando os índios, com a renda da venda de artesanato e outros recursos, começaram a consumir produtos industrializados como açúcar de cana, sucos, biscoitos, refrigerantes e outros alimentos, como o macarrão.”

O dentista, no entanto, revela que, em algumas regiões, onde a alimentação indígena é pastosa – composta por mingaus de mandioca ou de milho, além de muito mel –, os índios já apresentavam cáries antes do contato com outra sociedade. Isso porque esses alimentos são à base de amido – uma substância que, quando ingerida, se transforma em açúcar em nosso organismo –, o que favorece o surgimento de cáries.

Seja resultado do contato com a nossa sociedade ou não, o fato é que o surgimento de cáries em certas aldeias se torna um problema grave porque, diferentemente de nós, os índios não têm como preveni-las, por falta de acesso aos produtos de higiene, como o creme dental ou a água com flúor – um elemento que atua nos dentes e dificulta a perda de cálcio, uma das causas da cárie.

 

Para prevenir a cárie, escovar os dentes e manter uma boa higiene bucal continua sendo a melhor receita!

Se você, porém, quer saber por que os dentes dos índios que mantiveram suas tradições permaneceram saudáveis, mesmo sem produtos de higiene, aqui vai a resposta: o segredo está na mastigação. Alguns frutas e legumes crus precisam ser bem triturados e, com isso, provocam a autolimpeza dos dentes. “A mistura dos movimentos dos dentes, dos alimentos e da nossa saliva, estimulados pela mastigação, ajudam a remover a placa bacteriana: a camada de bactérias que se forma no dente e provoca a cárie”, conta Rui.

Como essa idéia serve para qualquer cultura, anote aí: inclua bastante salada e frutas no seu cardápio e, claro, escove bem os dentes e vá ao dentista regularmente, para manter seus dentes saudáveis e o sorriso brilhante!