Há cinqüenta anos, a União Soviética – um país europeu que deixou de existir em 1989 e que era formado por quinze repúblicas, entre elas, a Rússia – enviava ao espaço um pequeno equipamento. Apesar de parecer apenas uma bola de basquete prateada com quatro antenas, o Sputnik representava um avanço inédito para o mundo: pela primeira vez o homem conseguia lançar um satélite e, assim, dava o primeiro passo para conhecer melhor o universo.
Lançado por um foguete em outubro de 1958, o Sputnik – “satélite”, em russo – tinha como função medir a violência dos impactos de meteoróides – corpos menores que um asteróide e que estão em constante movimento no espaço – que se chocavam com a sua superfície, além de transmitir sinais de rádio.
Segundo o físico Marcelo de Oliveira Souza, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, a população estava avisada: em uma determinada freqüência de rádio, seria possível ouvir o “bip” do Sputnik. “E não foi só isso. Com o seu lançamento, todo o mundo passou a se perguntar: se os soviéticos conseguiram fazer isso, imagine só o que mais eles podem fazer?”, explica.
Na época, Estados Unidos e União Soviética viviam uma disputa política e econômica, chamada de “guerra fria”. Nesse cenário, “conquistar o espaço” significava também deter tecnologia de ponta, uma forma de poder. Assim, os Estados Unidos ficaram muito preocupados com o lançamento do Sputnik e logo procuraram estudar uma forma de também enviar algo para fora da órbita terrestre.
Não foram apenas os norte-americanos que, a partir do Sputnik, passaram a olhar mais para o espaço. “De uma hora para outra, todo mundo passou a se interessar um pouco mais sobre o que existia fora da Terra”, conta Marcelo Souza. Brincar de lançar foguetes virou coisa comum entre as crianças, e as histórias que já existiam sobre viagens espaciais – como as contadas pelo escritor Júlio Verne – estavam mais próximas da realidade. “Para ter uma idéia de como o Sputnik afetou a vida das pessoas, é interessante assistir ao filme Céu de outubro , em que um adolescente decide, junto com os amigos, construir seu próprio foguete”, recomenda Marcelo.
Hora do lançamento
Como um satélite é lançado para fora da atmosfera terrestre? E por que ele não cai? Quem explica é o físico Martín Makler, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: “Para falar sobre o lançamento do foguete, precisamos falar de gravidade. Ela é uma força que age sobre toda a superfície da Terra e ‘puxa’ os corpos para baixo. O foguete deve superar essa força para não cair”, explica ele. Mas como isso é feito?
Para tanto, o satélite é levado para fora da atmosfera da Terra por um foguete muito veloz, que se move a mais de 20 mil quilômetros por hora. “Ele segue para o alto o bastante para ‘sair’ do planeta, e depois se inclina um pouco, como se fosse girar junto com a Terra”, explica Martín. Nesse ponto, a cerca de 400 quilômetros acima de nossas cabeças, o foguete libera o satélite.
Pronto! O satélite fica parado lá em cima, fora da atmosfera terrestre, sem sofrer com a ação da gravidade. Por isso, não cai. No caso do Sputnik, foi necessário um foguete de quatro toneladas, chamado R.7, para o lançamento. Depois de liberar o satélite, ele caiu. “Mas a pressão da atmosfera é tão grande que desfez o foguete, exatamente como aconteceu com o Sputnik, seis meses após o lançamento”, conta Martín. Veja você: o satélite simplesmente caiu na Terra e se desfez em milhares de micropedacinhos. Que fim para um pioneiro do espaço! Uma cadela no espaço.
Enquanto a população ainda estava surpresa com a primeira aventura pelo universo, a União Soviética mandou mais um satélite para o espaço. Dessa vez, nada de rádio: um mês depois do Sputnik I, quem saiu da Terra em um foguete foi uma cadela da raça Laika, com o nome de Kudriavka (em russo). Na missão, que levou o nome de Sputnik II, os pesquisadores monitoraram os dados biológicos do animal – como a respiração, a alimentação e os batimentos cardíacos – por uma semana.
A cadelinha ficou famosa no mundo todo apenas pelo nome de Laika – bem mais fácil de pronunciar do que Kudriavka –, e foi um importante passo para que, um dia, um ser humano fosse enviado ao espaço, já que ninguém sabia como um ser vivo se comportaria fora da atmosfera terrestre.
Hoje, graças a essa primeira aventura soviética, existem milhares de satélites, para as mais variadas funções, no espaço. Entre os mais de dez mil objetos atualmente em órbita, estão os satélites meteorológicos, que monitoram o clima e ajudam na previsão do tempo que você vê na TV; há também os satélites astronômicos, que servem para observar o movimento dos astros; os de comunicação e as estações espaciais.
Atualmente, a Estação Espacial Internacional – que também é um satélite! – está na sua 15ª expedição e mantém, no mínimo, três astronautas sempre a bordo, vindos da Rússia ou dos Estados Unidos. Eventualmente, a estação recebe astronautas de outros países e até mesmo turistas. O brasileiro Marcos Pontes, por exemplo, ficou nove dias ali no ano passado. Deve ter sido uma experiência e tanto conhecer esse satélite, um neto distante – e moderno! – do Sputnik. Você não acha?
Você sabia que a Lua também é um satélite?
Você acabou de aprender que o Sputnik foi o primeiro satélite artificial enviado ao espaço. Chamamos de “artificial” porque foi feito pelas mãos humanas. Mas qualquer outra coisa que esteja na órbita da Terra – ou seja, se movimentando ao redor do planeta – pode ser considerado seu satélite. Assim, a Lua é um enorme satélite da Terra.