Dizem que, se os rios do Brasil fossem um reino, seu monarca seria o dourado. Podendo medir um metro de comprimento e pesar mais de 30 quilos, esse “peixão” ganhou fama de nobre por muitos motivos. Sua cor remete ao ouro, metal precioso e símbolo de riqueza; sua carne é uma das mais saborosas entre os peixes de água doce; e sua força é admirada pelos praticantes da pesca esportiva.
O que muita gente não sabe é que existem várias espécies de dourado nadando por aí. Todas elas pertencem ao gênero científico Salminus e vivem exclusivamente na América do Sul, principalmente no Brasil.
Salminus brasiliensis e Salminus franciscanus são as duas espécies brasileiras conhecidas como dourado. A primeira, cujo nome significa “brasileiro” em latim, é encontrada em rios do norte, oeste e sul do nosso país, mas também no Paraguai, Argentina e Uruguai. Já a segunda vive no rio São Francisco e seus afluentes – daí o nome em latim, franciscanus.
E que tal o dourado-branco? Esse nome curioso é dado por algumas pessoas aos peixes da espécie Salminus hilarii, cujas escamas apresentam um tom mais prateado. Seu nome científico é uma homenagem a um pesquisador francês que viajou por diversas regiões do Brasil no início do século 19, Augustin de Saint-Hilaire. Ele levou para a França um exemplar dessa espécie, que até então era desconhecida pelos cientistas. Lá, o especialista Georges Cuvier e seu aluno Achille Vallenciennes descreveram o bicho e lhe deram um nome científico.
Salminus hilarii pode ser encontrado nas bacias dos rios São Francisco e Paraná, e é mais conhecido pelos nomes tabarana ou tubarana. A origem e o significado desses nomes são misteriosos. Pode ser que venham de alguma língua indígena, como o tupi, ou até mesmo que possuam alguma relação com tubarão, já que as tubaranas são predadores vorazes dos rios. Ninguém sabe ao certo.
Existem tabaranas também nos rios da Amazônia, mas estudos recentes mostram que elas pertencem a uma espécie diferente, cujo nome científico ainda precisa ser definido pelos especialistas.
Não podemos esquecer que as mudanças que temos causado no meio ambiente têm afetado o reino dos dourados e das tabaranas. Nos últimos anos, as populações desses peixes têm diminuído em algumas regiões. Os motivos principais são a construção de hidrelétricas – que interferem nas migrações reprodutivas –, a poluição dos rios e a pesca sem controle. Em outros lugares, pescadores soltaram dourados em rios onde eles não viviam antes, causando um desequilíbrio ecológico e levando outras espécies à beira da extinção.
Sejam douradas ou prateadas, as espécies Salminus trazem nobreza aos nossos rios. Para que seu reinado continue, devemos proteger as populações que se encontram ameaçadas e impedir a introdução desses peixes em locais onde eles não ocorrem naturalmente.