Quando brincamos de pique-esconde num lugar muito grande e com muitos esconderijos, a brincadeira fica bem mais difícil, não é? Agora imagine fazer isso num lugar tão grande quanto nosso Sistema Solar: seria possível um planeta inteiro se esconder, passando despercebido pelos nossos melhores telescópios? Pois alguns cientistas acreditam que sim. Aliás, eles não desconfiam apenas de um planeta misterioso, mas de quatro!
Os planetas estariam a mais de 200 unidades astronômicas (UA) do Sol. Uma UA corresponde à distância média entre a Terra e o Sol, aproximadamente 150 milhões de quilômetros. Ou seja, esses planetas desconhecidos estariam bem mais longe do que Netuno, que está a cerca de 40 UA do Sol, e teriam massas entre duas e quinze vezes maiores que a da Terra.
Essas previsões são fruto de simulações realizadas para tentar entender o comportamento inesperado dos “objetos trans-nentuaninos extremos”, ou ETNOs, como os astrônomos gostam de chamar. Trata-se de rochas que viajam pelo espaço para além da órbita de Netuno, e que deveriam se distribuir de forma aleatória pelo espaço. Porém, sua trajetória indica uma possível ação de forças gravitacionais desconhecidas – uma das hipóteses para explicar isso é a presença de grandes planetas naquela área.
Planetas… Onde estão vocês?
Ora, você deve estar pensando: “vamos procurar logo por esses planetas desconhecidos!” Infelizmente, não é tão fácil. Confirmar na prática o que prevê esse modelo teórico é quase impossível nos dias de hoje.
“Os planetas não têm luz própria, só refletem o que recebem do Sol”, pondera Carlos de La Fuente Marcos, da Universidade Complutense de Madri. “O brilho desses corpos distantes, se existirem, seria 40 vezes mais fraco que o de Netuno – que já é bem pequeno”. Além disso, segundo o pesquisador, a trajetória desses planetas seria circular e eles se moveriam muito lentamente pelo espaço, sendo muito difíceis de encontrar.
O astrônomo Fernando Roig, do Observatório Nacional, também acha que observar de forma direta um objeto um pouco maior do que a Terra a mais de 200 UA é impossível, mesmo com potentes telescópios. “Ainda que fosse possível, há outro problema: sem ter uma previsão de em qual região do céu o objeto estaria, é como procurar uma agulha num palheiro”, lamenta.
Nós ficamos aqui imaginando se, um dia, conseguiremos de fato encontrar novos planetas no Sistema Solar. Mas Fernando contou à CHC que esta não é a única explicação plausível para o estranho comportamento dos ETNOs. “Há outras hipóteses, que envolvem estrelas próximas ou a interação entre os próprios ETNOs, por exemplo”.