Brilha, brilha, nuvenzinha

Se você gosta de observar o céu, já deve ter visto nuvens de todas as formas: parecidas com animais, semelhantes a monstros, que lembram naves espaciais… Mas o que acharia de avistar nuvens prateadas e que, ainda por cima, brilham no escuro?

Embora pareça estranho, nuvens assim existem e ainda hoje são um grande mistério para os cientistas. Elas foram observadas pela primeira vez em 1885, mas até hoje não se sabe ao certo do que são formadas. Seu brilho prateado e azul pode ser visto, em algumas partes do mundo, antes do nascer e depois do pôr do sol, ou até de madrugada.

Nuvens que brilham durante a noite ainda são um mistério para os cientistas. (foto: Terje Nesthus / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/) CC BY-NC-SA 2.0 (/a))

Nuvens que brilham durante a noite ainda são um mistério para os cientistas. (foto: Terje Nesthus / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.0/) CC BY-NC-SA 2.0 (/a))

Chamadas de noctilucentes ou nuvens de brilho noturno, elas costumam ficar a mais de 80 quilômetros da superfície, em uma das regiões mais externas da atmosfera terrestre (a Mesosfera) e podem ocupar milhares de quilômetros quadrados.

Mas como essas nuvens podem brilhar no escuro? Como a Terra é redonda, algum tempo após o nascer e o pôr do sol, quando está escuro aqui na superfície, o sol ainda ilumina camadas mais altas da atmosfera. As nuvens brilhantes aparecem nessa camada superior e são formadas sobretudo, por cristais de gelo que, ao serem atingidos pela luz solar, a refletem. Essa luz chega até nós e vemos a imagem da nuvem brilhando no escuro, pois é noite na superfície da Terra.

Muitas vezes, porém, esse brilho pode se estender até depois da meia-noite, quando o pôr do sol já passou faz tempo. Sabe por quê? As nuvens de brilho noturno só existem em regiões acima de 45° de latitude, mais ao norte e ao sul do planeta, onde a inclinação do eixo de rotação da Terra faz com que a parte superior da atmosfera permaneça iluminada por horas após o anoitecer na superfície. Assim, a luz do sol banha as nuvens o tempo todo e elas brilham mesmo de madrugada.

Infelizmente, o Brasil se situa em latitudes muito baixas – ou seja, em regiões próximas ao Equador – e não existem nuvens desse tipo por aqui. Os melhores locais para observá-las são o norte do Canadá, da Europa e da Ásia, especialmente entre junho e agosto, quando é verão por lá, a noite tem duração menor e o Sol fica mais alto no céu.

As nuvens noctilucentes estão nas camadas mais altas da atmosfera. (foto: NASA / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/) CC BY-NC 2.0 (/a))

As nuvens noctilucentes estão nas camadas mais altas da atmosfera. (foto: NASA / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/) CC BY-NC 2.0 (/a))

Mas, de qualquer forma, não há como negar que o mistério em torno delas é empolgante! Afinal, fora o gelo, ninguém sabe ao certo que outras partículas as formam – muitos cientistas acreditam que elas possuam até poeira espacial, por estarem tão na bordinha da nossa atmosfera. Além disso, a origem do gelo também é um enigma, já que a Mesosfera, apesar de muito fria (sua temperatura passa dos 120°C negativos!), também é muito seca: ou seja, tem pouca água.

Os cientistas desconfiam de que a atividade humana – que leva à emissão de gases poluentes, por exemplo – pode estar ligada ao aumento do número e do brilho dessas nuvens, registrados nos últimos anos. Será?

(Esta é uma reedição do texto publicado na CHC 171.)