Física em profundidade I

Uma aventura subaquática que (quase) todo mundo pode fazer hoje em dia é o mergulho recreativo. É um lazer que alcança milhares de pessoas no mundo todo, dando a elas a oportunidade de conhecer de perto os ambientes aquáticos, sejam de água doce, como lagos e rios, ou de água salgada, como os mares e os oceanos.

Milhares de pessoas no mundo todo praticam o mergulho recreativo. (foto: Paul / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/) CC BY-SA 2.0 (/a))

Milhares de pessoas no mundo todo praticam o mergulho recreativo. (foto: Paul / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/) CC BY-SA 2.0 (/a))

O ambiente aquático é muito diferente do ambiente terrestre a que estamos acostumados e, por isso, é preciso usar vários equipamentos para visitá-lo de forma segura e confortável. Existe um bocado de aventura no mergulho e também muita física envolvida, então, vale a pena dedicar uma série de textos ao tema. Para começar, vamos falar da primeira coisa que precisamos conseguir para mergulhar: afundar.

Afundar ou boiar depende da relação entre a densidade do corpo e a densidade do que está em volta do corpo – no caso, a água. Se o corpo for mais denso que a água, ele afunda. Mas se for menos denso que a água, o corpo boia. O gelo e uma rolha de cortiça são menos densos que a água líquida e por isso boiam quando colocados dentro dela. Já uma pedra é muito mais densa que a água e, portanto, afunda.

Assim como ocorre na água, a densidade do ar também é importante. Um balão "boia" – ou seja, sobe – no ar porque dentro dele há ar quente, que é menos denso que o ar frio que está do lado de fora do balão. Tão menos denso que o peso da cestinha, do equipamento e do balonista nem atrapalham! (foto: Harry Pherson / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/) CC BY 2.0 (/a))

Assim como ocorre na água, a densidade do ar também é importante. Um balão “boia” – ou seja, sobe – no ar porque dentro dele há ar quente, que é menos denso que o ar frio que está do lado de fora do balão. Tão menos denso que o peso da cestinha, do equipamento e do balonista nem atrapalham! (foto: Harry Pherson / Flickr / (a href= https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/) CC BY 2.0 (/a))

Para ser mais denso que a água, um corpo tem que pesar mais do que se aquele mesmo espaço que ele ocupa fosse todo preenchido com o líquido. As pessoas conseguem boiar na água porque, embora algumas partes do nosso corpo – os ossos, por exemplo – sejam um pouco mais densas que a água, outras partes, como as gorduras, são menos densas.

Há, ainda, várias partes do corpo que contêm ar ou gases, sendo muito leves – entre elas estão os pulmões, o estômago, os intestinos e os seios da face. Isso faz com que, em média, o nosso corpo seja um pouco mais leve do que o mesmo espaço ocupado todo por água.

Isso nos dá algumas possibilidades para afundar e conseguir ver o fundo do oceano. Em primeiro lugar, podemos tentar soltar o máximo de ar dos pulmões, aumentando a densidade média do corpo, que afundará. O problema disso é que a gente não vai aguentar ficar tempo algum debaixo d’água sem ar nos pulmões, então não resolve muito.

Soltar todo o ar dos pulmões nos faz afundar, mas, sem ar, não ficaremos tempo algum embaixo d’água. (foto: Polygon Medical Animation / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/) CC BY-NC-ND 2.0 (/a))

Soltar todo o ar dos pulmões nos faz afundar, mas, sem ar, não ficaremos tempo algum embaixo d’água. (foto: Polygon Medical Animation / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/) CC BY-NC-ND 2.0 (/a))

Outro jeito seria prender a respiração e, com os pulmões cheios de ar, fazer força com os pés e as mãos para nadar para baixo, mesmo que nossa densidade menor nos puxe para cima. O problema é que, assim que pararmos de fazer força para baixo, a tendência será voltarmos para cima, para a superfície da água.

Então, a melhor maneira de resolver o problema de afundar é mesmo aumentar a nossa densidade média e isso pode ser feito segurando um objeto pesado para que sejamos mais densos do que a água – de preferência, só um pouco mais, para que a gente possa voltar para a superfície apenas nadando e fazendo um pouco de força. Agora, o problema é que ficará cansativo ficar na superfície, a menos que a gente se livre do objeto pesado. Mas aí, se quisermos afundar de novo, voltamos a ter a mesma dificuldade inicial. E agora?

No mergulho recreativo, esse problema é resolvido de forma inteligente com o uso de dois equipamentos: o cinto de lastro e o colete equilibrador. O cinto de lastro é um cinto contendo alguns pesos de chumbo que fazem com que a densidade média do mergulhador fique maior do que a da água, pois o chumbo é bastante denso.

O cinto de lastro contém alguns pesos de chumbo que fazem com que a densidade média do mergulhador fique maior do que a da água. (foto: Domínio público)

O cinto de lastro contém alguns pesos de chumbo que fazem com que a densidade média do mergulhador fique maior do que a da água. (foto: Domínio público)

Enquanto o cinto nos puxa para baixo, essa tendência pode ser contida ou compensada por um colete que podemos inflar com ar durante o mergulho: o colete equilibrador. Como o ar é muito leve, sua presença no equipamento diminui nossa densidade média e nos faz ir para cima. É o equilíbrio entre a tendência a afundar do cinto de lastro e a tendência a boiar do colete equilibrador que permite que o mergulhador experiente fique estável a uma dada profundidade.

O colete equilibrador serve para compensar a tendência que o cinto de lastro tem de nos puxar para baixo. (foto: US CPSC / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/) CC BY 2.0 (/a))

O colete equilibrador serve para compensar a tendência que o cinto de lastro tem de nos puxar para baixo. (foto: US CPSC / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/) CC BY 2.0 (/a))

Mas, ainda assim, chega uma hora em que o ar dos pulmões acaba e precisamos subir para respirar. O mesmo acontece com baleias e tartarugas, só que a gente consome o nosso ar bem mais rápido que estes animais. E se quiséssemos ficar muito mais tempo debaixo d’água, sem ter que ficar voltando à superfície para respirar, como fazer? Descubra na coluna do próximo mês!