Ao olhar a imensidão de gelo que recobre a Antártica, fica difícil imaginar espécies que sobrevivam no continente mais frio do mundo. No entanto, cientistas acabam de descobrir que quase 4 mil espécies de bactérias habitam o lago Whillans, cujas águas estão sob uma camada de 800 metros de gelo antártico.
Ao longo de cinco anos, a equipe de pesquisadores, coordenada pelo microbiólogo Brent Christner, da Universidade de Luisiana, nos Estados Unidos, uniu forças para encontrar uma forma de romper a camada de gelo e coletar um pouco de água do lago, o que só conseguiram fazer em 2013.
Agora, um ano depois, os cientistas analisaram o líquido coletado e detectaram 130 mil células por mililitro de água do lago, uma quantidade semelhante à encontrada no fundo de vários oceanos. Segundo Brent, a temperatura no lago Whillans chega a 0,5 graus Celsius negativos.
O pesquisador explica que, apesar de parecer uma temperatura muito baixa, o lago embaixo do gelo não é tão frio quanto imaginamos. O próprio ambiente acima dele, onde os pesquisadores acamparam durante a pesquisa, chega, no verão, a temperaturas que variam entre 5 e 15 graus Celsius negativos.
“Diversos ambientes do nosso planeta são tão frios quanto o lago Whillans”, explica o microbiólogo. “O fundo dos oceanos, por exemplo, têm temperaturas muito próximas a de congelamento.”
Brent também conta que esse lago não congela por conta do calor que vem do solo abaixo dele. “A Terra é fonte de calor e, com uma camada de gelo sobre ela, esse calor fica preso”, explica Brent. “É por causa desse calor que o gelo que fica nas bases das geleiras descongela e, todos os anos, a quantidade de água do lago Whillans aumenta aos poucos.”
Comida de bactéria
Para sobreviver tão longe da superfície terrestre, as bactérias aproveitam a composição da própria água do lago Whillans para se alimentar. “A maioria das bactérias usam compostos inorgânicos para produzir energia, como amônia, ferro e sulfeto”, completa Brent.
Depois de identificar quais espécies habitam o lago, Brent tenta descobrir de onde esses microrganismos vieram. “Talvez tenham surgido em ambientes marinhos e viajado pela camada de gelo, que derreteu e os lançou para dentro do lago”, supõe. “Outra possibilidade é que estejam lá desde o passado, quando a Antártica ainda não era um continente congelado, e acabaram ficando presas quando o gelo se formou.”