Você já viu um manguezal? Encontrado em regiões costeiras tropicais do Brasil e do mundo, esse ecossistema abriga diversas espécies e, infelizmente, sua existência está ameaçada por conta das mudanças climáticas. Para conhecê-lo melhor e tentar preservá-lo, uma equipe de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) estuda, desde 1994, o manguezal de Guaratiba, que fica a 70 quilômetros do centro da capital carioca.
Desde então, os pesquisadores descobriram que o manguezal vem sofrendo bruscamente com os impactos da inconstância climática, que ora traz épocas de muita chuva, ora traz longos períodos de seca. Durante os períodos úmidos, a vegetação do mangue tende a crescer, mas, nas épocas de seca, acontece o contrário e o mangue acaba se retraindo.
O problema é que, apesar de a maioria dos manguezais ficar na beira da água, também existem aqueles que não ficam nas margens de mares ou rios e sofrem menos inundação pelas marés. Nesse caso, em tempos de seca, a situação é ainda mais grave, pois eles dependem totalmente da água da chuva e, se ela não vem durante um longo período, o mangue pode até morrer.
Outro fator que preocupa os pesquisadores é o aumento do nível do mar. Considerado um ecossistema de transição, o manguezal fica localizado na divisão entre o ambiente terrestre e marinho e, caso o nível do mar aumente muito, a vegetação pode sufocar e ser obrigada a migrar continente adentro.
“O manguezal precisa ir se adaptando conforme a subida do nível das águas”, diz o oceanógrafo Mário Soares, que coordena o Núcleo de Estudos em Manguezais (Nema) da Uerj. “O manguezal de Guaratiba, por exemplo, já se expandiu cerca de 100 metros terra adentro desde 1998.”
O grande problema é que nem todos os manguezais têm para onde fugir. Alguns ficam perto de regiões urbanas, enquanto outros acabam invadindo a área de outros ecossistemas. Como o cenário não é muito otimista, a tendência é que os manguezais tenham que se deslocar terra adentro cada vez mais para sobreviver.
Em busca da conservação
Mário adiciona que, para evitar a perda de manguezais e permitir que eles migrem e se adaptem à subida do nível do mar, o Nema propõe diversas medidas. Entre elas está a criação e ampliação de unidades de conservação que englobem as áreas futuramente ocupadas pelos manguezais. Tal medida é muito importante, já que, além de abrigar diversas espécies, os manguezais são essenciais para evitar o efeito estufa.
Segundo o oceanógrafo, os manguezais absorvem grande quantidade de carbono, evitando que o elemento fique solto na atmosfera, o que agravaria o aquecimento global. “O potencial de absorção de carbono do manguezal é comparável ao de florestas tropicais terrestres, como até mesmo a floresta amazônica”, explica Mário. Mais um motivo para preservá-lo, não é mesmo?