Não sei se você já sabe, mas as abelhas estão preocupando cientistas do mundo todo. Isso porque elas estão desaparecendo! Você pode até pensar que isso é bom, afinal, diminui as suas chances de levar uma picada, mas as abelhas são muito importantes, pois polinizam flores que geram grande parte dos frutos que comemos. Além disso, sem estes insetos, também não teríamos alguns grãos, vegetais e, é claro, mel.
Entre os esforços que estão sendo feitos para entender o sumiço das abelhas, existe um projeto que colocou 400 sensores de localização em abelhas-africanas da Amazônia. De olho nos caminhos que elas traçam, os pesquisadores acreditam que pode ser mais fácil descobrir por que elas estão sumindo e para onde estão indo.
“Os sensores funcionam como o número de matrícula na escola”, explica o físico e coordenador da pesquisa, Paulo de Souza, do Instituto Tecnológico Vale e da Agência de Pesquisa Científica e Industrial da Austrália (CSIRO, na sigla em inglês). “Eles são capazes de identificar se cada abelha sai da colmeia e vai a lugares especiais, como uma estação de alimentação. Assim, é como se soubéssemos se você entra na escola, na sala de aula, ou se vai para o recreio, para a quadra de esportes ou visita a cantina.”
Os cientistas acreditam que as abelhas desaparecem porque sofrem uma síndrome que as faz esquecer o caminho de volta para casa. Perdidas, elas acabam morrendo cansadas de tanto voar em vão. Como as causas desse problema ainda não são conhecidas, os pesquisadores tentam detectar que mudanças na rotina das abelhas podem estar associadas à síndrome.
“Com os sensores é possível entender como as abelhas se comportam sob diferentes condições”, diz Paulo. “Já sabemos que, quando colocamos pequenas doses de pesticidas nos alimentos oferecidos às abelhas, elas demoram mais tempo para retornar à colmeia, por exemplo, mas ainda há muitos outros fatores para observar.”
No cotidiano das abelhas, o contato com os pesticidas acontece quando pousam nas plantações para pegar pólen e néctar. Além disso, outra possível causa da falta de saúde desses insetos são as mudanças climáticas que os expõem a situações extremas como secas, chuvas torrenciais, frentes frias ou calor intenso. “O tema ainda é complexo, mas estamos animados com o sensor”, celebra Paulo. “É a ferramenta ideal para desvendar esse mistério.”
Trabalho difícil
Um dos grandes desafios da pesquisa é colocar os sensores nas abelhas. Pequenos, eles têm apenas 2,5 milímetros, mais ou menos o tamanho da ponta de uma caneta. “Existem várias formas de se colar o sensor na abelha”, conta Paulo. E adiciona: “Isso mesmo, usamos cola atóxica!” Com essa cola, as abelhas não correm riscos de se intoxicar. Mas ainda é preciso deixá-las paradas para fazer o processo. Difícil, não é?
“Primeiramente, tentamos colocar as abelhas em uma geladeira por algum tempo, porque elas adormecem com o frio, e então colocamos o sensor”, conta o cientista. “Em outra tentativa, usamos uma redinha para pressionar a abelha contra o favo de mel e imobilizá-la.”
Mas as duas opções não foram muito boas. Esfriar as abelhas apaga a memória delas e as redinhas podem danificar os favos da colméia. Foi um apicultor brasileiro que surgiu com a solução. “Usando luvas especiais, simplesmente pegamos as abelhas com as mãos”, conta Paulo.
Os pesquisadores estão trabalhando agora para diminuir ainda mais o sensor. Se ele chegar a ser tão minúsculo quanto querem, será possível aplicar com um spray em uma colmeia inteira de uma só vez. Já imaginou?