Prevendo o perigo

“Melhor prevenir do que remediar”, dizia a sua avó. Já pensou se fosse possível descobrir que uma espécie pode entrar em risco de extinção antes mesmo de ela se encaixar nessa categoria? Pois pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina desenvolveram um modelo que pode prever se uma espécie é vulnerável, ou seja, se ela pode entrar na lista de espécies em risco de extinção.

O mero é uma espécie de grande porte e está ameaçado de extinção. Ele é protegido por lei e sua pesca é proibida na costa brasileira (Foto: Carlos E. L. Ferreira)

O mero é uma espécie de grande porte e está ameaçado de extinção. Ele é protegido por lei e sua pesca é proibida na costa brasileira (Foto: Carlos E. L. Ferreira)

Segundo a bióloga Mariana Bender, a ideia do estudo era entender o estado de conservação das espécies de peixes que vivem em recifes de coral brasileiros e descobrir se elas estariam ou não vulneráveis. “A importância de prever essa vulnerabilidade é indicar que fatores podem levar uma espécie ao risco de extinção”, explica.

Os pesquisadores avaliaram, então, 559 espécies. Eles juntaram as características biológicas desses peixes – como tamanho, tipo de alimentação e aspectos da reprodução – e informações sobre as ameaças presentes no ambiente, como a pesca predatória.

Os peixes de grande porte, como o badejo-quadrado, são os mais procurados pela pesca predatória. Além disso, demoram mais para chegar à vida adulta e entrar na fase de reprodução (Foto: Carlos E. L. Ferreira)

Os peixes de grande porte, como o badejo-quadrado, são os mais procurados pela pesca predatória. Além disso, demoram mais para chegar à vida adulta e entrar na fase de reprodução (Foto: Carlos E. L. Ferreira)

“Comparando os dados de vários peixes, o estudo buscou encontrar as características mais comuns entre as espécies ameaçadas de extinção”, conta Mariana. Com isso, os cientistas esperavam identificar espécies que têm as mesmas características de vulnerabilidade, mas que ainda não faziam parte de nenhuma lista de animais ameaçados de extinção.

Entre as espécies mais vulneráveis atualmente estão peixes de grande porte, como tubarões, raias e o grupo das garoupas e badejos. Eles demoram mais para crescer e atingir a idade adulta para a reprodução, além de serem muito procurados pela pesca predatória. A pesca também ameaça peixes pequenos e coloridos, capturados para serem vendidos em lojas de aquários.

Peixes pequenos também correm risco de entrar em extinção. Os coloridos, como os da espécie Grama brasiliensis, são os preferidos de quem faz pesca ornamental (Foto: João L. Gasparini)

Peixes pequenos também correm risco de entrar em extinção. Os coloridos, como os da espécie Grama brasiliensis, são os preferidos de quem faz pesca ornamental (Foto: João L. Gasparini)

Para Mariana, os resultados da pesquisa podem ajudar a traçar planos para preservar as espécies de recifes brasileiros. Além disso, pesquisadores de outros países podem usar o estudo para avaliar as espécies de outras regiões de recifes, como o Caribe. “O estudo pode indicar que espécies de peixes devem receber atenção especial e servir como exemplo de aplicação das características das espécies para compreender melhor sua vulnerabilidade”.

Recifes brasileiros

A costa brasileira tem mais de 7,4 mil quilômetros de extensão, dos quais 3 mil são ocupados por recifes de coral, que se espalham do Maranhão até o sul da Bahia. São estas as únicas formações de corais presentes na parte sul do Oceano Atlântico.

Os recifes são conhecidos por sua grande variedade de seres vivos, que inclui peixes, crustáceos e outros animais. Além de sua importância para a biodiversidade, os recifes são fonte de alimento para populações locais e agem como uma barreira natural que protege a costa da força das marés.