Desvendar como eram o ambiente e os habitantes da Terra há milhões de anos não é tarefa fácil. Com fósseis espalhados pelo mundo inteiro e muitas vezes incompletos, fica difícil para os cientistas saber com certeza quais eram as espécies existentes e como se distribuíam pelo globo. Por isso, é comum que, de tempos em tempos, paleontólogos revejam materiais já estudados – com novos olhares e novas técnicas de análise, talvez eles revelem pistas que passaram despercebidas nos primeiros estudos!
Esse é o caso de um fóssil de Endothiodon encontrado na década de 1970 durante a escavação de túneis para a construção de uma ferrovia no Paraná. Ele faz parte do grupo dos dicinodontes, animais anteriores aos dinossauros que são primos distantes dos mamíferos atuais.
“Um geólogo e alguns operários da obra encontraram cacos de ossos e fizeram a coleta”, conta a paleontóloga Alessandra Boos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Ao juntá-los, o geólogo montou um crânio incompleto”.
Este foi o primeiro fóssil de dicinodonte encontrado na América do Sul. Na época, os cientistas não conseguiram identificar a espécie do animal, mas sabiam que ele pertencia ao gênero Endothiodon – cujos representantes viveram no final do período Permiano, entre 254 e 268 milhões de anos atrás.
Observando novamente o material coletado há tantas décadas, os cientistas fizeram uma descrição mais detalhada e, com isso, esperam encontrar mais pistas sobre o fóssil. Eles descobriram, por exemplo, que o Endothiodon brasileiro é bem parecido com alguns fósseis encontrados na África: esta pode ser a pista que faltava para descobrir sua espécie!
Na época em que os Endothiodon viveram, havia na Terra um continente único chamado Pangeia, e apenas um oceano. Isso poderia explicar por que o dicinodonte encontrado no sul do Brasil é tão parecido com fósseis descobertos na África – a separação das duas porções de terra aconteceu bem depois do período Permiano.
Com isso em mente, os cientistas continuam suas investigações. Parece até trabalho de detetive! De quanto tempo mais será que eles precisam para desvendar este mistério?