Dois pais de uma teoria

Charles Darwin (à esquerda) e Alfred Wallace, os pais da teoria da evolução (Imagens: Wikimedia Commons)

O leitor que acompanha a CHC com certeza já ouviu falar da teoria da evolução, que explica o surgimento das muitas espécies de seres vivos que habitam nosso planeta. Provavelmente, já ouviu falar também sobre Charles Darwin, naturalista britânico que ficou conhecido como criador dessa teoria. Agora, se você for ligado mesmo no assunto, sabe que Darwin não foi o único a ter essa ideia. Outro naturalista inglês, Alfred Wallace, elaborou a teoria quase ao mesmo tempo em que Darwin o fez. Não sabia? Então me deixe contar esta história…

Entenda a teoria da evolução
Em resumo, a teoria da evolução das espécies diz que os grupos de seres vivos passam algumas características de pai para filho e, de uma geração para a outra, a natureza vai selecionando os indivíduos mais adaptados ao ambiente em que vivem. Assim, conforme o ambiente se modifica – com aumento ou diminuição na temperatura e no nível de chuvas, por exemplo – sobrevivem e se reproduzem mais os indivíduos que têm mais condições de se alimentar, escapar de predadores ou encontrar parceiros para reprodução, entre outras habilidades. Esse processo é chamado de seleção natural e, ao longo de milhões de anos, o resultado é o surgimento de novas espécies, parecidas com as originais, mas diferentes em algumas características cruciais. Clique aqui para saber mais.

Lá pelo início do século 19, explicar a origem dos seres vivos e a grande diversidade de animais e plantas do planeta era uma das principais questões da ciência. Por isso, muitos pesquisadores estiveram debruçados sobre o tema, cada qual fazendo suas observações e formulando teorias. Darwin e Wallace estavam incluídos nesse grupo.

Darwin era, desde criança, um apaixonado pela natureza. Aos 22 anos, teve a oportunidade de fazer uma viagem de navio ao redor do mundo, financiada pelas autoridades britânicas. Durante o passeio, visitou a África, a América do Sul e a Oceania, fazendo observações sobre os animais e fósseis encontrados.

Um ponto marcante da viagem de Darwin foi a estadia nas ilhas Galápagos. Lá, ele notou que espécies de aves e tartarugas se desenvolveram de maneira diferente nos ambientes de cada ilha (Foto: David Adam Kess / CC BY-SA 3.0)

Depois de recolher muitas informações e materiais dos lugares por onde passou, Darwin começou a organizar suas hipóteses sobre a origem das espécies. Escreveu alguns ensaios iniciais, mas manteve as questões mais revolucionárias em segredo e só as comentou com alguns amigos. Até que, em 1858, recebeu uma carta que o fez mudar de ideia…

O remetente era Wallace, um jovem conterrâneo de Darwin com uma trajetória parecida – ele também esteve viajando pelo mundo, primeiro ao Brasil e depois à Indonésia, coletando informações sobre os seres vivos.

Nascido em uma família pobre, Wallace tinha o mesmo sonho de descobrir a resposta para origem das espécies, mas não tinha condições de bancar a viagem. Teve, então, uma ideia: aproveitar a expedição para coletar e vender na Europa alguns animais e plantas, o que lhe serviria de sustento durante a pesquisa.

No Brasil, Wallace observou que os rios amazônicos serviam como limites geográficos para a distribuição de espécies da fauna e da flora – mais ou menos como Darwin deduziu em relação às ilhas de Galápagos. Mais tarde, confirmou a relação entre geografia e distribuição dos animais no arquipélago malaio (Imagem extraída do livro de Wallace sobre sua viagem à Amazônia. Crédito: Wallace Online)

As observações de viagem também foram a base para que Wallace formulasse sua teoria da evolução por meio da seleção natural, que enviou a Darwin em carta no ano de 1858. Quando leu a correspondência, Darwin tomou um susto: as ideias eram praticamente iguais às dele!

Darwin contou o acontecido a amigos cientistas, que sugeriram organizar uma sessão na qual os dois naturalistas pudessem apresentar sua teoria. Ela aconteceu no dia 1 de julho de 1858, na Sociedade Lineana da Londres, na Inglaterra. Foram lidos manuscritos de Darwin e a carta de Wallace, sem a presença dos autores.

No ano seguinte, Darwin publicou seu livro A Origem das Espécies, que gerou burburinho e lhe rendeu muito mais fama do que Wallace jamais teve. Os dois, no entanto, tornaram-se amigos por toda a vida – unidos pela teoria que formularam ao mesmo tempo e que até hoje esclarece a sociedade sobre o surgimento dos seres vivos no planeta.

Agradecimentos: Ildeu de Castro Moreira, Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia / Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação