Para ir a Marte…

Um grupo de pessoas está confinado em um ambiente fechado com câmeras por todos os lados. Parece um programa de TV, mas é uma missão científica! Voluntários de vários países participaram do projeto Mars500, a mais realista simulação de uma viagem a Marte já realizada. Eles permaneceram por 500 dias na Rússia, em um ambiente especialmente preparado para imitar a viagem de ida e volta e o pouso no planeta vermelho.

A equipe foi composta por três russos, um francês, um italiano e um chinês. Com tanta convivência, os seis tiveram tempo de sobra para aprender sobre a cultura uns dos outros! (Foto: ESA)

Mais de seis mil pessoas em 40 países se inscreveram para participar do estudo, que foi promovido pelas agências espaciais da Europa, da Rússia e da China. Os seis escolhidos permaneceram na “espaçonave” de junho de 2010 a novembro de 2011. Nos primeiros 250 dias, os participantes simularam a viagem até Marte. Depois, foi a vez de imitar a estadia no planeta por 30 dias e, no final, o retorno à Terra (240 dias).

“Durante todo esse tempo realizamos mais de 100 experimentos propostos por equipes de todo o mundo, controlamos os sistemas da nave e conduzimos simulações de trabalhos no espaço”, conta o engenheiro italiano Diego Urbina, que participou do projeto.

A estrutura da Mars500 foi montada próximo a Moscou, na Rússia. A grande ‘nave’ simulava as dimensões de um módulo espacial rumo a Marte (Foto: ESA)

Os voluntários se alimentavam de comida de várias partes do mundo – como eram desidratados, era necessário acrescentar um pouco de água ou esquentá-los no micro-ondas antes de comê-los. A exceção eram os vegetais frescos produzidos em um viveiro especialmente preparado para a aeronave. Segundo Diego, essa era a melhor comida, mas raramente eles podiam aproveitá-la.

Assim como os vegetais, a água também era bastante limitada e não podia ser desperdiçada. Por isso, os participantes só podiam tomar um banho a cada dez dias! E, para beber, eles simularam a utilização de equipamentos – ainda em desenvolvimento – capazes de transformar o xixi dos astronautas em água potável.

Os participantes sabiam que estavam o tempo todo em terra firme, mas Diego conta que, em alguns momentos, a viagem pareceu bem real. “Sem dúvida o melhor momento de todo esse período foi o pouso simulado em Marte, realmente nos sentimos muito distantes de qualquer coisa naquele instante”, lembra.

Trajes espaciais usados durante a simulação de um passeio pela superfície de Marte (Foto: ESA)

Tudo isso pode parecer muito estranho, mas tem objetivos importantes: avaliar aspectos psicológicos e práticos que podem ser importantes na hora de planejar uma viagem real a Marte. Durante a simulação, os cientistas descobriram, por exemplo, que os tripulantes sofreram com distúrbios de sono e de humor. Futuras missões deverão, então, tomar providências para que isso não aconteça: por exemplo, ajustar a iluminação da espaçonave para imitar os períodos de dia e noite na Terra e dar aos astronautas tarefas desafiadoras que possam mantê-los ocupados – ou seja, criar uma rotina parecida com a que temos aqui.

Uma vez por semana, a tripulação tinha que limpar a nave. No tempo livre, os participantes podiam ver filmes e jogar vídeo game (Foto: ESA)

Embora os resultados tenham sido bastante interessantes, a viagem tripulada a Marte ainda está longe de se tornar realidade. Há outros desafios técnicos a superar, como o tamanho do foguete necessário, e também outros testes para realizar com os astronautas – por exemplo, a longa exposição à ausência de gravidade e à radiação cósmica.