Os sabiás são meus passarinhos prediletos e, entre eles, o sabiá-laranjeira é sem dúvida um dos mais bonitos: imponente, o peito cor de laranja, sempre com um ar de ousadia, quer ciscando pelo terreiro ou cantando sobre um abacateiro. Quando os vejo, rapidamente me lembro de uma canção que ouvia quando criança:
Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho
Voou, voou, voou
E a menina que gostava tanto do bichinho
Chorou, chorou, chorou
Hoje, sei que a majestade dos sabiás não combina com a prisão de uma pequena gaiola, mas nem sempre pensei assim. Antigamente, na tentativa de aprisionar o que mais gostava dos sabiás – seu jeito independente e meio atrevido –, eu os caçava impiedosamente. Às vezes, lá nos campos que circundavam minha casa, ia direto aos ninhos, pegava os filhotinhos e os alimentava ainda no bico, impedindo, desde pequenos, que pudessem experimentar o sabor da liberdade.
A liberdade é algo que os sabiás e todas as aves conhecem bem, talvez pela história de seus antepassados. Acredita que os ancestrais das aves são os dinossauros? Verdade! E os dinossauros eram inconformados com sua própria condição de dinossauros, então viviam buscando novas formas de viver…
Para que andar em terra? Por que não voar e percorrer áreas mais distantes e descobrir novos locais, onde poderiam caçar e descansar? Com o risco da extinção batendo à porta, nada melhor do que novos caminhos e transformações que possibilitassem a sobrevivência.
Pesquisas paleontológicas já encontraram muitos grupos de dinossauros que possuíam plumas e penas, coloridas como nas aves. Já imaginou um dinossauro laranja? Alguns desses fósseis têm várias das características das aves modernas, mas possuem dentes em seus bicos e sua cauda, além das penas, possui vários ossos, como os encontrados nas caudas dos dinossauros.
Assim, quando analisamos os ossos de pequenos dinossauros predadores, conhecidos como terópodes, verificamos a existência de uma série de formas de transição, ou seja, espécies que estavam lá pelo meio do caminho; nem propriamente dinossauros, e muito menos aves, pelo menos como as que conhecemos atualmente.
Podemos dividir esses animais de transição em dois grupos: os “dinoaves” ou dinossauros com plumas, que não eram capazes de alçar voo, e os Avialae ou dinossauros voadores, que eram capazes de realizar pequenos voos, mas nada que se compare às aves atuais.
Voltando à música de minha infância, ela continuava assim:
Sabiá fugiu pro terreiro
Foi cantar lá no abacateiro
E a menina pôs-se a chamar:
Vem cá sabiá, vem cá!
Sabemos, porém, que não é assim tão fácil fazer o passarinho voltar: o voo do sabiá é como o caminho da evolução e da transformação da vida, uma porta de gaiola aberta que possibilita um mundo cheio de novidades, sem retorno e sempre novo!