Carolina acorda para mais um dia de trabalho. Toma café, veste uma roupa confortável e sai para mais um passeio de canoa pelos rios da Amazônia. E aí, você consegue adivinhar o que ela faz? Quem disse que ela pesquisa animais acertou! Mas não de um jeito tradicional: ela busca amostras de fezes do peixe-boi para investigar sua reprodução.
Parece maluquice estudar um bicho por meio do seu cocô, mas a veterinária Carolina Oliveira, do Instituto Mamirauá, explica que o trabalho é muito importante. “Não sabemos muito sobre como é a reprodução do peixe-boi amazônico na natureza, e esta é uma informação importante para nos ajudar na conservação da espécie”, explica. Para isso, um passo fundamental é medir a quantidade de hormônios produzidos pelos animais.
“A forma mais comum de medir isso é usar amostras de sangue de vários animais e comparar os resultados de cada uma”, conta Carolina. “O problema é que, para conseguirmos um pouquinho de sangue de peixes-boi que vivem soltos nas águas da Amazônia, teríamos que capturá-los, o que, além ser muito trabalhoso, deixa os animais muito assustados”.
Para evitar isso, surgiu a ideia de estudar o cocô do peixe-boi, que também contém uma quantidade razoável de hormônios. Os pesquisadores, então, tomam a canoa e vão procurar as amostras nos locais frequentados pelos bichos. ”É fácil saber por onde eles passam porque costuma ter um bocado de restinhos de plantas onde eles comeram”, diz a veterinária.
As amostras coletadas são colocadas em sacos plásticos e os pesquisadores anotam data e local onde foram encontradas. Depois, o material é congelado. A equipe já conseguiu mais de 300 amostras! Já no laboratório, o cocô é analisado e o estudo das variações na concentração de hormônios reprodutivos ajuda a estimar as épocas do ano em que os peixes-boi acasalam e têm filhotes.
Segundo Carolina, o estudo das fezes do peixe-boi pode dar pistas não só sobre a reprodução do animal, mas também sobre sua alimentação e a presença de parasitas intestinais.