Restaurando a natureza

A serra do Cipó, em Minas Gerais, é um verdadeiro tesouro ambiental de nosso país. Lá, concentra-se o maior número de espécies vegetais endêmicas do Brasil – ou seja, espécies que só existem em uma região do planeta. Se essas plantas desaparecerem dali, estarão extintas para sempre: por isso a serra do Cipó é tão importante.

Panorâmica da Serra do Cipó, em Minas Gerais. A região foi degradada pelo homem e muitas espécies vegetais correm o risco de sumir do planeta. (foto: Wikimedia Commons / HVL / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.pt)CC BY 3.0(/a))

Panorâmica da Serra do Cipó, em Minas Gerais. A região foi degradada pelo homem e muitas espécies vegetais correm o risco de sumir do planeta. (foto: Wikimedia Commons / HVL / (a href= http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/deed.pt)CC BY 3.0(/a))

Infelizmente, essa riqueza não impressionou as empresas de mineração e construtoras de estrada que apareceram por lá nas últimas décadas do século 20. Grandes obras ameaçavam a preservação de diversas espécies e várias delas estavam desaparecendo.

Para disfarçar a destruição, gestores ambientais decidiram plantar uma série de novas plantas na região. Havia, porém, um problema: as novas espécies eram o que os cientistas chamam de espécies exóticas – também conhecidas como invasoras. Não são naturais daquele ambiente, mas, por terem grande resistência, acabam ocupando o lugar das espécies originais e contribuindo para seu desaparecimento.

Pesquisadores lutam para salvar espécies nativas, como o alecrim-do-campo ((i)Baccharis dracunculifolia(/i)) típico do cerrado. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

Pesquisadores lutam para salvar espécies nativas, como o alecrim-do-campo ((i)Baccharis dracunculifolia(/i)) típico do cerrado. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

“Ouvi muitos pesquisadores reclamando do que estava acontecendo”, disse à CHC o ecólogo Geraldo Wilson Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais. “Mas ninguém saía do conforto de sua poltrona para tomar alguma atitude.” Até que, em 2001, Geraldo decidiu entrar em ação e iniciou um interessante projeto para resgatar a biodiversidade vegetal da serra do Cipó.

O primeiro passo foi convencer todo mundo de que inserir espécies invasoras naquele ambiente era uma péssima ideia. Foi difícil, mas ele conseguiu. Em seguida, a ideia era fazer o reflorestamento com as próprias espécies nativas. Aí surgiu um problemão: não existiam no mercado mudas de plantas típicas da serra do Cipó. Portanto, mesmo se quisessem, não poderiam fazer a restauração de maneira correta!

Depois de muito trabalho, a equipe do projeto realizou diversos estudos sobre a biologia de cada uma das espécies que deveriam ser restauradas. Eles começaram tudo do zero, pois era escasso o conhecimento científico sobre as plantas daquele ecossistema. Como será que cada uma delas se reproduz? Quais são as melhores condições de solo para plantá-las? Ninguém sabia de nada…

A (i)Collaea cipoensis(/i) é uma espécie endêmica de Minas Gerais e foi salva graças ao projeto de recuperação da equipe da UFMG. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

A (i)Collaea cipoensis(/i) é uma espécie endêmica de Minas Gerais e foi salva graças ao projeto de recuperação da equipe da UFMG. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

Com o tempo, felizmente, os pesquisadores encontraram as respostas. Em meio à mata, foi montado um laboratório, onde 50 especialistas passaram a monitorar a área. Desde 2001, já foram recuperados cerca de 40 hectares de mata nativa, e alguns trechos que estavam degradados há mais de 30 anos foram revitalizados. “Temos agora áreas extensas cobertas por espécies nativas que, há uma década, estavam próximas de desaparecer”, comemora Geraldo.

Alguns exemplos das plantas sobreviventes são a Coccoloba cereifera, a Collaea cipoensis, a Chamaecrista semaphora, a Kielmeyera petiolaris, a Diplusodon orbicularis e a Vellozia nanuzae, conhecida como canela-de-ema. Mais de 40 outras espécies endêmicas estão em processo de recuperação no momento.

Vegetação nativa é reinserida em áreas degradadas na serra do Cipó. Na imagem, vemos o alecrim-do-campo ((i)Baccharis dracunculifolia(/i)) em meio a dezenas de outras de menor porte. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

Vegetação nativa é reinserida em áreas degradadas na serra do Cipó. Na imagem, vemos o alecrim-do-campo ((i)Baccharis dracunculifolia(/i)) em meio a dezenas de outras de menor porte. (foto: Geraldo Wilson Fernandes)

A plena restauração das espécies endêmicas ainda deve levar algum tempo, mas o primeiro passo já foi dado. O exemplo de serra do Cipó fica como inspiração para outras futuras ideias, em diferentes locais do Brasil que passam por situações parecidas e precisam ser conservados.