Plásticos do futuro

Este é o filme plástico feito com mandioca. (Fotos cedidas pelas pesquisadoras)

Já parou para pensar quantos objetos são feitos de plástico? Há brinquedos, copos, pratos, garrafas, mesas, cadeiras e tantos outros que é impossível listar todos. Apesar de útil, o plástico não é o melhor amigo da natureza. Feito de petróleo, ele demora muito tempo para se decompor, pode levar até 100 anos. Enquanto isso prejudica o meio ambiente. Atentos à importância desse material, mas também à quantidade de lixo que ele pode gerar, os cientistas estão produzindo plásticos a partir de matéria-prima biodegradável – isto é, que desaparece rapidamente na natureza. Esses novos plásticos podem ser reciclados e – acredite! – até mesmo ingeridos, sem fazer mal.

Um plástico feito de mandioca
Ele foi desenvolvido para servir de embalagem para alimentos como bombons, balas, sanduíches e biscoitos, podendo até ser mastigado junto com o produto. É, esse plástico você pode comer! Isso porque ele é feito a partir da mandioca.

Para produzi-lo, amido da mandioca, açúcares e outros componentes são misturados com água. Esse mingau é então aquecido, espalhado em placas e colocado em estufa para secar. O resultado é um plástico bem fininho, chamado de filme.

Foi a engenheira de alimentos Pricila Veiga dos Santos, da Universidade Estadual de Campinas, quem teve a idéia de criar um plástico desse tipo. “O Brasil é o segundo produtor mundial de mandioca. O plástico feito com este produto é biodegradável, o que ajudaria a reduzir o impacto ambiental causado pelas embalagens plásticas convencionais”, explica a engenheira química Cynthia Ditchfield, do Laboratório de Engenharia de Alimentos do Departamento de Engenharia Química da Universidade de São Paulo, que há um ano assumiu a pesquisa iniciada por Priscila.

Uma embalagem feita de plástico comum demora cerca de um século para se decompor, já a que é feita à base de mandioca e açúcares leva apenas alguns meses, reduzindo o impacto ambiental causado pelas embalagens atuais. O plástico de mandioca tem ainda outros encantos. De acordo com os ingredientes adicionados em sua receita, ele pode adquirir propriedades que ajudam na conservação dos alimentos ou mesmo mostrar quando eles estão estragados (leia os boxes Livre de micróbios e A cor da saúde). Só não há ainda previsão de quando ele poderá chegar ao mercado.

Livre de micróbios
Se a receita do plástico de mandioca incluir cravo, canela, pimenta, café, óleo de laranja, mel ou própolis, a embalagem feita com esse material será capaz de retardar o crescimento de microrganismos que fazem o alimento estragar. Isso porque esses ingredientes combatem naturalmente os micróbios.

De plástico se faz plástico… biodegradável
O plástico comum leva até um século para desaparecer da natureza. Porém, cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Universidade da Região de Joinville, em Santa Catarina, criaram uma variação que se decompõe entre 45 dias e sete meses. A base desse novo plástico é plástico também, mais especificamente o de garrafas PET – aquelas usadas para embalar refrigerantes.

Os pesquisadores lavam e cortam as garrafas e, em seguida, colocam-nas, junto com substâncias biodegradáveis, em um equipamento chamado reator. “O reator é aquecido em alta temperatura e pressão e um novo plástico é produzido. Ele terá em sua estrutura partes do plástico PET e partes das substâncias biodegradáveis”, diz a química Ana Paula Testa Pezzin, da Universidade de Joinville, coordenadora de projeto.

As amostras de plástico são, então, enterradas no solo, para se observar o tempo que levam para se decompor. Comprovou-se que o plástico produzido se deteriora mais facilmente na natureza, graças à ação dos microrganismos. “Eles assimilam o plástico como alimento até que ele desaparece, deixando apenas resíduos, que são seguros e não tóxicos ao ambiente”, conta Ana Paula.

Veja (no alto) como ficou o plástico biodegradável após 45 dias enterrado no solo.

As pesquisas com o plástico biodegradável ainda estão em andamento. Mas o consumo das garrafas PET no mundo continua sendo de milhões de toneladas. Então, imagine todo esse lixo levando centenas de anos para desaparecer. É ou não é um problema a se resolver?

A cor da saúde
Adicionando-se extrato de uva ou de repolho roxo à receita do plástico de mandioca, a embalagem feita com esse material pode revelar se o produto que ela contém está estragado. Isso porque a uva e o repolho roxo são alimentos ricos em pigmentos que mudam de cor com a acidez. E como a acidez de um alimento se altera quando ele estraga… A embalagem em contato com ele mudaria sua cor (veja a foto).

Matéria publicada em 22.06.2010

COMENTÁRIOS

  • Jeanne duarte

    Nossa! é vivendo e aprendendo.
    Ótima essa matéria que bom se todas as pessoas tivessem acesso a ela, quem sabe não chegaria mais longe e alcançaria a todos os individuos que se sentem prejudicado pelo excesso de estrago na natureza e resolveria tomar uma posição mais adequada quanto a isso..

    Publicado em 21 de maio de 2020 Responder

  • Chrisitane

    Impressionante a variedade de usos da mandioca na culinária, cosmética e agora como alternativa na confecção de plástico e ferramenta de recuperação do nosso ecossistema. Orgulho dessa raiz brasileira ser objeto de pesquisa brasileira( UNICAMP) capaz de beneficiar a todos.

    Publicado em 29 de julho de 2020 Responder

  • MARIA DA CRUZ

    Sensacional,e muito interessante seria bem vindo ao nosso mundo ,nos dias atuais ,pois ajudaria o nosso meio ambiente ,

    Publicado em 17 de agosto de 2020 Responder

  • Antonia Couto

    Realmente inovador!!!

    Publicado em 26 de agosto de 2020 Responder

  • Ana Paula

    Será super vindo essa inovação de plásticos feito da mandioca. A natureza agradece ! Super interessante a matéria .

    Publicado em 19 de outubro de 2020 Responder

  • Vanessa

    Adoro ver o sair para aprender mais a casa dia

    Publicado em 22 de março de 2021 Responder

  • ramon

    adoria saber diso

    Publicado em 12 de abril de 2021 Responder

  • Nelci M. de O. Piazza

    A cada dia me surpreendo com a tecnologia utilizada para os estudos de pesquisas na educação, ela nós ajuda a descobrir coisas tão importante no dia a dia que nem imaginamos que existiam. ” Um plástico feito de mandioca”. sensacional.

    Publicado em 16 de junho de 2021 Responder

  • Darci Maria Seravalli Rombolli Brignani

    Simplesmente fantástico!!! Já consigo imaginar a revolução que trará a nossa vida.
    Mais uma mulher de visão.
    Brilhante e corajosa.
    É isso aí, vamos apoiar esse avanço.
    Obrigada por compartilhar.

    Publicado em 19 de agosto de 2021 Responder

  • Maria Madalena Gomes

    são informações nova para o meu conhecimento, Adorei saber que no futuro tudo pode ser uma obra de proteção ao nosso planeta.

    Publicado em 11 de novembro de 2021 Responder

  • Aline Eutáquia Cáceres.

    Muito interessante essas alternativas, pois devemos realmente repensar nos acúmulos dos resíduos produzidos por nós, principalmente os plásticos.

    Publicado em 29 de novembro de 2021 Responder

  • Nilma

    Já mais imaginei plástico de mandioca!
    Enfim, viva a criatividade e a ciência.

    Publicado em 24 de agosto de 2022 Responder

  • Nádia Bernardi

    Muito interessante as pesquisas realizadas. O plástico é um problema sério para o meio ambiente precisamos realizar ações coletivas para reduzir a utilização.

    Publicado em 27 de dezembro de 2022 Responder

  • Fernanda Souza Batista Murdiga

    Turma do 7ºC da EMEF Padre Gregório Westrupp

    Achamos muito interessante essa ideia de usar plásticos biodegradáveis. Além de ajudar o meio ambiente impedindo que os animais comam e morram, eles se decompõem rapidamente, evitando a poluição mundial.
    Mas por que tanta demora para esses plásticos entrarem no comércio? Já se passaram treze anos desde a publicação dessa matéria…
    Sugerimos que vocês façam uma matéria sobre isso!

    Publicado em 18 de setembro de 2023 Responder

  • Fernanda Murdiga e alunos do 7º B

    Gostamos muito do artigo sobre os plásticos biodegradáveis, porque eles ajudam a diminuir a poluição, pois se decompõem mais rapidamente na natureza. Na nossa opinião devemos reduzir cada vez mais o uso do plástico derivado do petróleo para não acabar com o meio ambiente ou prejudicar os animais, principalmente os marinhos.
    Queríamos saber o motivo de ainda não ter chegado no mercado em larga escala o novo plástico. Ficaríamos felizes se vocês publicassem uma matéria sobre isso.

    #Os lendários do 7ºB😎

    Publicado em 19 de setembro de 2023 Responder

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Cathia Abreu

Adoro aprender coisas novas. Tenho a sorte de trabalhar me divertindo e fazendo descobertas todos os dias.

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