Uma de minhas frutas prediletas é o caju. Suculento, macio e sempre com um gosto de mistério. Por vezes doce e suave, ou então ácido e de gosto marcante. E o perfume que exala? Uauuuu! Seu odor pode ser sentido de muito longe. E as cores? Amarelo, laranja e até mesmo avermelhado.
Quando criança, sempre tentei fazer que uma semente de caju brotasse. Meu sonho era ter, no fundo de meu quintal, um cajueiro grande e frondoso. Numa das tentativas, consegui um pequeno broto, que depois cresceu, cresceu e cresceu… Até se transformar numa árvore só minha! Foi então que veio a primeira florada. Meus primos e eu acompanhávamos diariamente o crescimento dos frutos e a ansiedade era total para nossa primeira colheita.
Enquanto isso, o restante da molecada se agrupava no muro e gritava incessantemente: “Ah! Ah! Uh! Uh! Nós vamos comer o seu caju!”; ao que revidávamos: “Uh! Uh! Ah! Ah! Vocês vão é comer cajá!”
A disputa rolou até chegarem os primeiros frutos. Inacreditavelmente incríveis. Grandes, suculentos e de coloração alaranjada. A polpa macia, doce e facilmente digerida. Não havia nada igual. Uma verdadeira raridade, para uma cidade onde não existia nenhum cajueiro.
Lá na minha terra os cajus eram tão raros como são os frutos fósseis. O que, não sabia? No registro paleontológico, achar um fruto fossilizado é bastante difícil!
Frutos – incluindo o caju – são geralmente macios, suculentos e desejados pelos animais. Quando as plantas frutificam, rapidamente, após amadurecerem, os frutos servem para a alimentação dos animais frugívoros, ou seja, que se alimentam de frutos. Se amadurecem demais e caem no chão, apodrecem e são decompostos por bactérias. Geralmente, apenas as partes mais duras, como as sementes, conseguem resistir à ingestão feita pelos animais ou então ao apodrecimento no chão.
Por isso, você pode imaginar como é difícil um fruto ser rapidamente soterrado e não apodrecer totalmente. Mas, para que um fóssil se forme, são necessárias essas duas condições. A fossilização de frutos é, portanto, uma situação muito rara, já que quase sempre apenas os organismos que possuem partes duras e resistentes são os que deixam seu registro nas rochas. A maioria esmagadora dos frutos não se fossiliza para contar história…
Bem, meu cajueiro também não durou tanto tempo assim. Comemos seus frutos, nos deliciamos com seus sucos e, naquele mesmo ano, a árvore misteriosamente morreu. Uma vida curta, mas que, se não deixou registro geológico, pelo menos seu aroma, sabor e cor estarão sempre em minhas memórias.