Mistério na mata

Na Reserva Biológica de Poço das Antas, no Rio de Janeiro, há um mistério a ser desvendado. Um ou mais predadores estão atacando e matando os micos-leões-dourados que vivem espalhados pelos 5.500 hectares de área protegida. Quem são eles, ninguém sabe ainda. Mas, para sorte dos micos, já tem gente tentando descobrir!

O mico-leão-dourado ( Leontopithecus rosalia ) é chamado assim por causa da sua juba parecida com a do leão e de seu pêlo de cor dourada e vermelha. Vive de 15 a 16 anos e em grupos de três a dez animais. Ameaçado de extinção, tem, geralmente, dois filhotes gêmeos e come de tudo: na sua alimentação, entram de insetos a frutas.

A engenheira florestal Sinara Lopes Vilela veio de Brasília para o Rio de Janeiro e está fazendo uma pesquisa para identificar o misterioso predador. Ele começou a agir entre 1994 e 1995, atacou 15 grupos dessa espécie até 2000 (cada grupo tem, em média, quatro indivíduos) e 11 animais só neste ano de 2004.

“Como os micos-leões-dourados atacados são encontrados próximos aos ocos das árvores que usam apenas para dormir, acreditamos que o predador aja entre o anoitecer e o amanhecer”, conta a engenheira florestal. Para descobrir a identidade desse animal, serão utilizadas imagens colhidas por 18 câmeras fotográficas instaladas próximas aos ocos da Reserva Biológica de Poço das Antas. “Equipadas com sensores de movimento, elas disparam com qualquer entrada ou saída do oco”, explica Sinara.

A pesquisadora define o local onde as câmeras serão instaladas a partir das informações passadas por uma equipe de campo que quatro vezes por semana checa os grupos de micos-leões-dourados de Poço das Antas. “A equipe verifica quais são os ocos mais freqüentemente usados e, de acordo com suas observações, vamos mudando as câmeras de lugar”, explica. Desde que as câmeras passaram a ser utilizadas, houve um ataque a mico-leão-dourado na reserva. Porém, não foi possível identificar o predador porque ele agiu em um oco onde não havia equipamento instalado.

Dizer quando a identidade do predador será descoberta é difícil. “Depende muito: pode ser amanhã ou daqui a um ano”, conta Sinara. Ela explica que a probabilidade de encontrar o predador aumentaria com mais câmeras sendo espalhadas pela reserva, só que isso ainda não pôde ser feito por falta de recursos financeiros.

Mas se ainda não é possível indicar quem, com certeza, está colocando em risco os micos-leões-dourados de Poço das Antas, ao menos dá para listar três suspeitos: a jaguatirica, a irara e o macaco-prego. Esses animais foram vistos próximos aos ocos onde houve logo depois um ataque ou na região onde algo desse tipo ocorreu. Os macacos-pregos podem estar atacando os micos-leões-dourados por briga de territórios; já o motivo dos outros dois suspeitos seria um desequilíbrio ecológico.

A Reserva Biológica de Poço das Antas tem uma área pequena, portanto, poucos recursos alimentares. Em um local como esse, os predadores de grande porte, como as onças, não permanecem, já que precisam de muito alimento. Isso pode ter levado a um desequilíbrio, já que são eles que controlam o número de predadores de médio porte, como iraras e jaguatiricas. A população desses animais pode ter aumentado e, com menos alimentos disponíveis, talvez estejam utilizando outras formas de alimentação, que incluem os micos-leões-dourados.

O problema é que, se os ataques a esses animais continuarem em ritmo acelerado, a espécie pode ser levada à extinção. A média de micos por grupo, por exemplo, já caiu de 5,6 para 4,2. “Por isso, quando descobrirmos quem é o predador, vamos pensar em soluções para que ele e os micos vivam em harmonia”, conta Sinara. Então, vamos torcer para que se descubra logo quem está atacando esses pequenos macacos!