Era fevereiro, não me recordo o ano, véspera do carnaval. Na rua se ouvia ao longe: plac, plac, plac… Um bloco de sujos se aproximava e o barulho aumentava. Naquela época, os blocos de carnaval eram formados por dez ou vinte pessoas que se reuniam e, com latas transformadas em instrumentos de batuque, saíam pelas ruas.
Alguns poucos se fantasiavam de palhaços, marinheiros e bailarinas. Porém, a maioria tinha roupas velhas e rasgadas, por vezes manchadas de barro, e que assim lhe davam o nome de bloco de sujos.
Sujos ou não, a alegria era garantida. Para não serem reconhecidos, os participantes tinham as caras cobertas com máscaras ou mesmo velhas fronhas furadas no lugar dos olhos e da boca – um detalhe que gerava muita desconfiança, diga-se de passagem. Mas não tenho nenhuma dúvida de que todos gostavam de participar ou mesmo de vê-los desfilar.
O disfarce é um meio de realizarmos ações ou de podermos nos beneficiar, sem que outros nos reconheçam. Na natureza, isso também acontece, desde os tempos pré-históricos.
Várias plantas e animais que viveram há milhões de anos desenvolveram mecanismos para serem mais bem sucedidos no ambiente em que viviam. Falsos espinhos, chifres gigantescos, plumagens exuberantes, formatos variados e talvez até mesmo cores inimagináveis serviam como estratégias para a sobrevivência e para possibilitar vantagens sobre outras espécies.
Um exemplo curioso é um pequeno invertebrado chamado Hallucigenia, que viveu há 500 milhões de anos no Canadá. Ele possuía um conjunto de possíveis pernas e espinhos, que os paleontólogos não conseguem descobrir se ficavam dispostos para cima ou para baixo. Seu nome remete a esta birutice: o bicho é tão esquisito que parece uma alucinação!
Outros animais também tinham estratégias curiosas, como o inseto Hallucinochrysa, encontrado no interior de um âmbar com mais de 110 milhões de anos. Ele usava restos de plantas e animais mortos para se disfarçar – um verdadeiro mestre das fantasias.
Essas estratégias não aparecem apenas nos pequenos invertebrados, mas também em grandes animais. Os dinossauros Triceratops provavelmente usavam seus chifres e adornos no crânio como forma de atrair suas fêmeas ou para o combate com outros machos.
Sem falar que muitos outros dinossauros, com suas plumas de formas e cores variadas, fariam sucesso até hoje em qualquer desfile de carnaval!
No decorrer de milhões de anos, as estratégias de sobrevivência levaram a soluções cada vez mais elaboradas na forma e estrutura das plantas e dos animais. Como nas escolas de samba, se a fantasia não é boa e se o samba atravessa, o destino dos seres vivos é encerrarem suas carreiras de sambistas e desaparecerem para sempre da passarela da evolução da vida na Terra.