Investigação a distância

De que são feitas as estrelas? Até uns duzentos anos atrás, mais ou menos, a resposta a esta pergunta parecia estar fora do alcance da ciência. Isso porque já se sabia que as estrelas estavam realmente muito longe de nós e não era possível ir até elas para descobrir! Os astrônomos pareciam ter que se consolar com o fato de que a única fonte de informação que tínhamos das estrelas era a luz que nos chegava delas, e isso não parecia dizer nada sobre como elas eram ou de que eram feitas.

Num quarto escuro, Newton fez com que a luz do Sol passasse por uma fresta da janela e atravessasse um pedaço de cristal cuja base tinha a forma de um triângulo – o prisma. A luz foi dividida nas cores do arco-íris. Saiba mais na CHC 137.

Isso mudou, porém, com o surgimento da espectroscopia – um nome pomposo para o estudo das cores presentes na luz. Desde os experimentos de Newton com prismas de vidro no final do século 17, sabia-se que a luz branca (a luz do Sol, por exemplo) podia ser decomposta nas diferentes cores do arco-íris.

No século 19, contando com prismas de vidro de melhor qualidade, foi possível abrir ainda mais o espectro da luz do Sol, e foram identificadas nele cerca de 570 linhas escuras muito finas. Elas correspondiam a determinadas cores que pareciam “faltar” no espectro da luz do sol.

Mais tarde, descobriu-se que muitas dessas cores coincidiam com as cores que compunham a luz emitida por diferentes elementos químicos quando aquecidos numa chama – hidrogênio e sódio, por exemplo. Esses elementos, concluíram os cientistas, estavam presentes na nossa estrela central. Como eles chegaram à essa conclusão? Um experimento simples em laboratório!

Cada elemento ou substância química, quando queimado, gera uma chama de cor característica. O vapor de mercúrio, por exemplo, emite uma luz arroxeada, enquanto o cloreto de sódio emite uma chama amarelada (Foto: scienceatlife / Flickr / CC BY-NC-SA 2.0)

Os pesquisadores colocaram uma fonte de luz branca – uma lâmpada, por exemplo – diante de um prisma. Depois, posicionaram, entre a lâmpada e o prisma, diferentes elementos químicos. O resultado foi que, no espectro formado, sempre ficava faltando a cor correspondente ao elemento químico que estava sendo usado no experimento.

Quando a luz atravessa um prisma, cada cor é desviada numa direção um pouquinho diferente uma da outra. Assim, um feixe de luz do Sol é espalhado em uma pequena faixa contendo uma sequência de cores que vai do vermelho, numa extremidade, até o violeta, na outra, passando pelo laranja, amarelo, verde e azul. A essas faixas coloridas damos o nome de “espectro” da luz branca (Ilustração: Wikimedia Commons)

Assim, concluiu-se que as linhas escuras no espectro do Sol deviam-se à presença de certos elementos e substâncias na superfície do Sol. Comparando as linhas escuras no espectro do Sol e as linhas produzidas em laboratório, foi possível identificar que elementos químicos e substâncias estavam presentes na estrela.

Nesse processo, houve um grupo de linhas que parecia não pertencer a nenhum elemento conhecido. Os cientistas pensaram que elas correspondiam a um novo elemento químico que existiria somente no Sol e, por isso, deram-lhe o nome de hélio, que quer dizer Sol em grego. Apenas 17 anos depois o elemento hélio foi identificado na Terra.

Para saber do que as estrelas são feitas, basta observar a luz emitida por elas e investigar as cores que a formam. Cada conjunto específico de cores corresponderá a um elemento químico ou substância (Foto: ESA/Nasa)

Depois dessa investigação, muitas outras foram feitas: os astrônomos puderam juntar seus telescópios aos prismas e analisar o espectro da luz das estrelas. Os mesmos tipos de linhas foram encontrados e, finalmente, foi possível concluir que as estrelas são feitas dos mesmos elementos químicos que o Sol e a Terra. Uma façanha e tanto!