Descobertas chocantes

Nas águas dos rios amazônicos nadam muitas espécies de peixes, mas acho que os peixes-elétricos estão entre os mais curiosos. E o grupo acaba de crescer: foram descobertas duas novas espécies, Brachyhypopomus walteri e Brachyhypopomus bennetti.

Das duas espécies, (i)Brachyhypopomus walteri(/i) é a que tem a cauda maior. Os sinais elétricos produzidos pelos sarapós são mais fracos que o de uma pilha de rádio tamanho AA. Ou seja, não dá nem para sentir o choque!

Das duas espécies, (i)Brachyhypopomus walteri(/i) é a que tem a cauda maior. Os sinais elétricos produzidos pelos sarapós são mais fracos que o de uma pilha de rádio tamanho AA. Ou seja, não dá nem para sentir o choque! (Foto: Jansen Zuanon)

Elas pertencem a um grupo de peixes popularmente conhecidos como sarapós e são muito parecidas fisicamente – só um especialista é capaz de identificá-las corretamente! Além de dividirem características físicas, dividem também o habitat, em meio a raízes e caules submersos de plantas aquáticas dos rios Amazonas e Solimões.

As novatas têm dentes pequenos, corpo comprido, uma coloração que vai do amarelo ao amarronzado e uma nadadeira muito longa que se estende por quase toda a parte inferior do corpo. Encontradas por pesquisadores brasileiros e americanos, elas se diferenciam basicamente pelo tamanho da cauda e do órgão elétrico – responsável por produzir as descargas elétricas que caracterizam esse tipo de peixe.

Mesmo as descargas elétricas da (i)Brachyhypopomus bennetti(/i), que são um pouco mais fortes, precisam ser detectadas por aparelhos especiais, desenvolvidos pelos pesquisadores.

Mesmo as descargas elétricas da (i)Brachyhypopomus bennetti(/i), que são um pouco mais fortes, precisam ser detectadas por aparelhos especiais, desenvolvidos pelos pesquisadores (Foto: Jansen Zuanon)

“As espécies foram descobertas durante uma expedição científica realizada há cerca de 20 anos, mas só agora foram descritas cientificamente porque precisávamos analisar em detalhes as suas diferenças”, conta Jansen Zuanon, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Ele explicou à CHC Online que os dois peixes também se diferenciam pelos sinais elétricos que emitem. De forma geral, os sarapós usam descargas elétricas para se comunicar com outros indivíduos da mesma espécie e para localizar presas, predadores e outros objetos no meio aquático – o que é fundamental, já que eles têm hábitos noturnos e vivem em rios de águas turvas ou muito profundas, onde a luz nunca chega!

O choque provocado por esses peixes, porém, não faz nem cócegas em um ser humano. Segundo o oceanólogo José Alves Gomes, também do Inpa, as novas espécies produzem cargas menores que um volt. Mesmo assim, os pesquisadores acreditam que o B. bennetti utiliza sua eletricidade, um pouco mais intensa que a do B. walteri, como um inteligente sistema de defesa.

O poraquê ((i)Electrophorus electricus(/i)) pode ser encontrado em pequenos riachos, em áreas de várzea de grandes rios, e até em meio aos rios encachoeirados da região amazônica. Seu choque equivale à energia de dez lâmpadas de 60 watts. Encostar a mão nele? Nem pensar! (foto: Wikimedia Commons/ Stan Shebs)

O poraquê ((i)Electrophorus electricus(/i)) pode ser encontrado em pequenos riachos, em áreas de várzea de grandes rios, e até em meio aos rios encachoeirados da região amazônica. Seu choque equivale à energia de dez lâmpadas de 60 watts. Encostar a mão nele? Nem pensar! (foto: Wikimedia Commons/ Stan Shebs)

Os cientistas acreditam que o peixe imita o impulso produzido por outro peixe-elétrico, o poraquê, este sim capaz de dar choques poderosos, de até 600 volts – o suficiente para atordoar presas e espantar predadores. “Nossa hipótese é que o B. bennetti imitaria esse comportamento como uma estratégia para afastar predadores, que não se aproximam com medo de se tratar de um poraquê”, diz Jansen. A natureza é mesmo muito esperta, não acham?