Cientistas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá acabaram de voltar de uma temporada de caça. Mas com um detalhe importante: seu objetivo não era retirar animais da floresta, e sim estudá-los em seu habitat natural. Eles colocaram, em cinco onças-pintadas, colares eletrônicos que enviarão informações constantes sobre o paradeiro dos animais.
A equipe de pesquisadores se revezou na floresta para distribuir 30 armadilhas em locais por onde as onças costumam passar. Elas consistiam em um laço que se fechava ao ser pisado por um animal. “Apesar de ser de aço, o laço não machucava as patas dos bichos ao se fechar”, garante o biólogo Emiliano Esterci Ramalho, que comandou a captura. “Fiz isso várias vezes na minha mão para testar”.
Após a instalação das armadilhas, o próximo passo seria esperar. Em duplas, os cientistas verificavam todos os dias se haviam capturado algum animal. A primeira onça foi encontrada no décimo dia da excursão, durante a noite. Toda a equipe foi chamada para observar o animal e ajudar na instalação do colar.
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“Os procedimentos duram cerca de uma hora”, conta Emiliano. “Primeiro fazemos uma estimativa do peso do animal, para saber a quantidade de anestésico a ser usada. Depois, com um dardo, injetamos a substância e esperamos a onça dormir”. Com o bicho anestesiado, os pesquisadores fazem uma avaliação de seu estado geral de saúde, monitoram a frequência cardíaca e respiratória, medem a temperatura, coletam amostras de sangue, e, claro, colocam o colar.
Novamente solta na floresta, a onça volta à vida normal. Aproximadamente a cada quatro horas, o aparelho grava o local onde o animal se encontra e envia as informações para o pesquisador via satélite a cada dois dias.
Os colares eletrônicos vão fazer isso por cerca de um ano e, encerrado o período da pesquisa, estão programados para se soltarem dos animais. “Depois recuperaremos na mata os colares”, acrescenta o biólogo. “Assim teremos acesso a todas as informações coletadas sobre aqueles animais”. Atualmente, estão sendo monitoradas cinco onças – dois machos e três fêmeas.
O principal objetivo da pesquisa é descobrir como as onças-pintadas se comportam em áreas de várzea, que permanecem inundadas em certas épocas do ano. “Alguns animais permanecem ali durante as cheias, o que é um comportamento inédito entre os felinos de grande porte”, explica Emiliano. “Nossa hipótese é que as fêmeas ficam na várzea para cuidar dos filhotes, enquanto os machos saem para se alimentarem e voltarem fortalecidos para a época da reprodução”.