Quantos anos você tem? Essa pergunta é fácil demais de responder, não? E, caso você se esqueça, é só dar uma espiadinha na sua certidão de nascimento e tirar a dúvida. É fácil descobrir a idade das pessoas, mas nem sempre podemos dizer a idade das coisas – como, por exemplo, das estrelas. Se elas não têm certidão de nascimento, como determinar sua idade?
A pista está em sua composição. Estrelas são recheadas de elementos químicos e uma das formas de se conhecer a idade aproximada de uma estrela é analisar o tipo e a quantidade desses elementos. Esse método é conhecido como relógio químico.
Embora o relógio químico seja muito útil para determinar a idade relativa entre grupos de estrelas localizados em diferentes partes da nossa galáxia, ele é um pouco incerto para determinar as idades de outras estrelas.
Por isso, há alguns anos, surgiu um novo método capaz de, a partir de grandezas físicas dos corpos celestes, como raio e massa, nos informar sobre a distância em relação à Terra e a idade da estrela. A grande novidade é que este método funciona mesmo para estrelas que estão muito distantes de nós, passeando lá pelas redondezas do centro da Via Láctea – note que nosso planeta está em uma das pontas da galáxia.
Em teoria, qualquer um dos dois métodos deveria chegar ao mesmo resultado para a mesma estrela, isto é, se avaliarmos a idade de uma estrela pelo relógio químico ou por suas grandezas físicas, deveríamos ter como resposta a mesma idade aproximada.
Mas às vezes isso não acontece – o que, é claro, deixa os cientistas de cabelo em pé! Veja, por exemplo, o estudo da astrofísica brasileira Cristina Chiappini, pesquisadora do Instituto Leibniz para Astrofísica, na Alemanha. Ela encontrou um conjunto de estrelas intrigante: ao determinar sua idade a partir das grandezas físicas, elas parecem jovens, mas, se utilizarmos o relógio químico, parecem muito mais velhas!
Um dos casos mais extremos é o de uma estrela que, segundo as grandezas físicas, teria uma idade de aproximadamente 1 bilhão de anos, enquanto seu relógio químico indicava algo mais próximo a 10 bilhões de anos. Considerando que o universo conhecido tem 13 bilhões de anos, uma estrelinha de 1 bilhão de anos é considerada nova, imagine… Na escala de tempo humana, seria como se você tivesse a aparência de uma criança de 7 anos de idade, mas sua certidão de nascimento dissesse que você já passou dos 90. Que loucura, não acha?
Mas por quê?
Desde o início da nossa galáxia, estrelas nascem e morrem. Com o tempo, a quantidade de elementos químicos no gás que vai formar novas estrelas vai mudando, de tal forma que estrelas mais jovens se formam não só com mais elementos químicos, mas também com uma distribuição diferente destes elementos (as velhas têm muito mais oxigênio em relação ao ferro do que as mais jovens, por exemplo).
No caso estudado por Cristina, porém, isso não está acontecendo. Essas estranhas estrelas jovens possuem alta quantidade de oxigênio em relação ao ferro – propriedade típica de estrelas velhas. “O relógio químico dessas estrelas não está funcionando muito bem”, diz a astrofísica. Por que será que isso está acontecendo?
Uma explicação possível é que essas estrelas tenham se formado a partir da união de outras estrelas mais antigas. “Se isso for verdade, então a massa da estrela não é a massa original dela, mas sim a soma das massas de duas estrelas de que se fundiram em uma. Em outras palavras, ela teria massa de estrela nova, mas elementos químicos de estrelas velhas”, esclarece Cristina.
Outra explicação possível é que, em algum lugar da galáxia, o gás ficou parado, sem formar estrelas, por muito tempo e, portanto, com composição típica dos primeiros bilhões de anos, até que, por algum motivo, começou a formar estrelas novamente –estrelas jovens com química típica de estrelas velhas. Se isso aconteceu, precisamos descobrir por que esse gás preguiçoso ficou lá sem formar estrelas, enquanto, nas outras regiões, estrelas nasciam e morriam continuamente.
Quem será que vai resolver esse quebra-cabeças?