Como chegar lá sem se perder

Hoje em dia praticamente todos os aviões e navios que cruzam os oceanos de um lado para o outro do mundo têm um equipamento que permite ao piloto saber sua localização no mapa a todo instante. Este aparelho, chamado de Sistema de Posicionamento Global, ou simplesmente GPS, sigla do nome em inglês, conecta-se por meio de uma antena a diversos satélites em órbita da Terra, e a partir daí calcula a sua própria posição. Ele revolucionou a navegação, isto é, a técnica que permite sair de um lugar e chegar em um outro lugar muito distante sem se perder.

 

Mas mesmo dispondo do GPS, todos os bons navegadores ainda precisam aprender a se orientar e navegar utilizando as técnicas que eram usadas antes de haver satélites e GPS. Afinal de contas, vai que o aparelhinho quebra ou fica sem bateria no meio do caminho?

Durante milênios os seres humanos viajaram de um lugar a outro usando marcos geográficos (montanhas, rios, etc.), o Sol e as estrelas para se orientar. Isto é, para confirmar que estavam indo na direção certa. Isto podia ser feito porque a partir do movimento do Sol ou da distribuição das estrelas é possível determinar em qual direção está o norte (ou o sul), e, a partir daí, é possível ir para qualquer outra direção que faça um ângulo com ela. No entanto, nem sempre fazer isso era uma coisa fácil. Por exemplo, o céu podia estar nublado por muito tempo, dificultando ver as estrelas ou mesmo a posição exata do Sol. Por isso não era muito fácil navegar no mar longe do litoral, porque o barco podia facilmente se perder e ir parar muito longe.

A invenção da bússola foi o que mudou isso. Apesar de ter sido melhorada na Itália no século 13, a ideia da bússola deve ter sido inicialmente desenvolvida mais de cem anos antes na China, onde já se sabia que um tipo de mineral (que hoje chamamos magnetita) podia atrair pedaços de ferro. Além disso, estes “magnetos” (ou ímãs, como são mais conhecidos) mostravam outras curiosas propriedades: eles podiam se atrair ou se repelir uns aos outros, dependendo de qual lado (ou polo) fosse aproximado do outro ímã. Se tivessem um formato alongado, fossem leves o suficiente e colocados sobre um apoio que permitisse que girassem, eles se posicionavam sempre de forma a apontar na direção norte-sul.


Ora, eis aí uma coisa muito útil para a navegação! As bússolas nada mais eram, portanto, que ímãs bem leves em forma de “barrinhas” ou agulhas apoiados sobre um pino para que pudessem girar livremente, e colocados em caixas ao abrigo do vento. Com elas era possível determinar a direção norte-sul de forma imediata e independente do tempo estar bom ou ruim, o que permitiu pela primeira vez uma navegação precisa através dos oceanos, resultando, entre outras coisas, na descoberta da América pelos europeus no século 15, incluindo aí, é claro, a descoberta do Brasil pelos portugueses.

O famoso físico Albert Einstein dizia que o que o motivou para a ciência foi ter ganho de seu pai uma bússola quando criança. Ele falava que o objeto parecia mágico, como se houvesse uma “força” misteriosa que vinda não se sabe de onde fazia com que a agulha se movesse e finalmente parasse certinho sempre na mesma direção. Einstein era provavelmente muito pequeno ainda para saber que, em 1600, William Gilbert, um sábio inglês, havia publicado um livro, chamado justamente De Magnete, que quer dizer “Sobre os Ímãs”, em latim. Nele, Gilbert dava uma ideia genial para explicar por que os ímãs das bússolas apontavam sempre para a direção norte-sul. Ele imaginou que a própria Terra se comportava como um ímã, atraindo para o seus polos os polos do ímã da bússola!

Beto Pimentel
Colégio de Aplicação
Universidade Federal do Rio de Janeiro.