Você sabe o que faz um paleontólogo? Entre várias outras tarefas, esses cientistas passam dias escavando pacientemente uma área em busca de qualquer vestígio que possa dizer algo sobre os animais que viveram na Terra em um passado distante. Para perceber como o trabalho desses profissionais é difícil, basta pensar nos dinossauros. Afinal, esses répteis pré-históricos deixaram de existir há milhões de anos e pouco sobrou deles. Mas, peraí: será que eles realmente se extinguiram?
– Lógico – você poderia responder – Não saio de casa e encontro um Tyrannosaurus rex de cinco metros de altura dando uma corrida pelo quarteirão!
Bem, nessa parte você tem toda razão, mas não é exatamente essa a questão. Na verdade, o que tem sido discutido pelos cientistas é se as aves atuais não seriam descendentes de alguns tipos de dinossauros. Talvez você não saiba, mas existem muitas características que são compartilhadas por esses dois animais!
Um fóssil recém-descoberto em Minas Gerais, por exemplo, apresenta características tanto de dinossauros quanto de aves e promete esquentar o debate. Trata-se de uma espécie de dino-ave. Dino-ave? Isso mesmo! Como explica o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável pelo estudo do fóssil, as espécies presentes nesse grupo não seriam nem dinossauros nem aves, embora apresentem características dos dois. “São formas de transição que nós chamamos de dinossauros emplumados”, diz.
O paleontólogo explica que o dinossauro encontrado em Minas Gerais era carnívoro e pertencia ao grande grupo dos terópodes, juntamente com os ilustres Tyrannosaurus rex e o Velociraptor. O animal foi classificado em um grupo mais específico: o dos maniraptores. Para alguns especialistas, as aves atuais teriam surgido desse grupo, já que muitas características físicas são comuns entre estes dinossauros e aves como gaviões, araras e outras espécies.
Aliás, o que levou os paleontólogos a descobrirem o dino-ave mineiro foi uma garra. Encontrada no distrito de Peirópolis, em Uberaba, ela tinha pouco mais de cinco centímetros. Ismar e os pesquisadores Luiz Carlos Borges Ribeiro, do Museu dos Dinossauros, e Fernando Novas, do Museu de Ciências Naturais de Buenos Aires, que também participaram da pesquisa, tiveram muito trabalho para desvendar a quem ela pertencia! Foram feitas muitas comparações com outros fósseis de maniraptores e consultas com especialistas da Argentina, até que, por fim, o dono da garra foi apresentado.
O dino mineiro
O dinossauro de Minas Gerais ainda não recebeu um nome. “Com apenas uma garra, ainda não é possível registrá-lo com um nome científico, mas esperamos encontrar outros fósseis na região e dar um nome ao maniraptor”, diz Ismar. A partir de todo o estudo feito, porém, foi possível descobrir uma série de características do animal.
Com aproximadamente o mesmo tamanho de um avestruz, o dino-ave pesava até 80 quilos – o peso médio de um homem adulto – e viveu no final do período Cretáceo, há 70 milhões de anos. Nessa época, ocorreram muitas mudanças ambientais no planeta, geradas principalmente pela separação do continente africano do americano, o que originou o oceano Atlântico. O clima, que era quente e seco, por exemplo, ficou mais úmido, o que alterou todo o ecossistema.
Nesse cenário, o dinossauro de Peirópolis era encontrado sempre em bando e usava o poder de equipe para atacar presas por vezes bem maiores do que o seu tamanho. Suas garras eram poderosas armas: elas possuíam uma lâmina bem afiada que podia causar um grande estrago. Era, enfim, um tipo de dinossauro que você, com certeza, gostaria de ver dando uma volta no quarteirão. Desde que ele não estivesse com fome, não é?