Respirar para crescer

Um, dois, três e… Já!! Assim era o começo das aulas de ginástica. Sempre no horário da tarde, quando o sol era capaz de, mesmo na sombra, fritar torresmo. A aula era só para os meninos da turma, e acredito que era uma espécie de treinamento antecipado para os que desejassem seguir carreira militar. Era um corre-corre desenfreado, polichinelo, flexão de braço, abdominal e, para terminar, uma hora de futebol. O que poderia ser diversão transformava-se no suplício final do dia, já que o campo era tão grande que ninguém da turma conseguia levar a bola até a rede do time oposto. É lá estava o professor a gritar:

“Corram, corram! Vamos encher estes pulmões de ar que é para vocês crescerem fortes e saudáveis!”

Correr ...correr...para poder crescer. Este era o lema de nossas aulas de ginástica, momento em que descobríamos o quanto a existência do ar era importante para nossas vidas! (foto: StephenMitchell / Flickr / <a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0>CC BY-NC-ND 2.0</a>)

Correr… correr… para poder crescer. Esse era o lema de nossas aulas de ginástica, momento em que descobríamos o quanto a existência do ar era importante para nossas vidas! (foto: StephenMitchell / Flickr / CC BY-NC-ND 2.0)

Lembro-me desses momentos principalmente pela falta de ar e não pelo excesso dele nos pulmões. Vamos lá, experimente – inspire fundo e prenda a respiração. Agora, conte até 60 devagarzinho. Devagarzinho! Não dá para resistir até o final, né? Agora, você sabe como nos sentíamos em cada aula: totalmente sem ar e suplicando por um pouco de oxigênio.

Este é nosso planeta. Sua cor azul é sinal da presença de um gás muito importante para nossas vidas – o oxigênio. Porém, nem sempre foi assim, e já houve momentos em que esse gás praticamente ele não existia na Terra. (foto: NASA)

Este é nosso planeta. Sua cor azul é sinal da presença de um gás muito importante para nossas vidas – o oxigênio. Porém, nem sempre foi assim, e já houve momentos em que esse gás praticamente não existia na Terra. (foto: NASA)

Era então que percebíamos como algo invisível, sem odor e que está por todos os lados da Terra é tão importante. No ar, o principal elemento químico é o oxigênio. É ele que possibilita que a maioria dos animais realizem seu metabolismo e cumpram seus ciclos de vida. Porém, nem sempre foi assim em nosso planeta.

A abundância de oxigênio na atmosfera é uma situação relativamente nova no decorrer da história da Terra. Já houve momentos em que se tratava de um gás muito pouco comum. Nessa época, sobreviviam em nosso planeta apenas os organismos anaeróbicos, isto é, que não dependem desse gás.

Ao longo de centenas de milhões de anos, a variação da quantidade de oxigênio na atmosfera terrestre foi também responsável por situações que interferiram no próprio processo da evolução das espécies. As extinções e o surgimento de novas plantas e animais são eventos que estiveram relacionados com a variação deste gás que é tão precioso para a vida.

A <i>Meganeura</i> foi um dos maiores insetos que já existiram. A envergadura de suas asas podia chegar a 80 centímetros e acredita-se que seu grande tamanho ocorreu devido à abundância de oxigênio na Terra há 300 milhões de anos. (foto: andytang20 / Flickr / <a href=http://creativecommons.org/licenses/by/2.5>CC BY 2.5</a>)

A Meganeura foi um dos maiores insetos que já existiram. A envergadura de suas asas podia chegar a 80 centímetros e acredita-se que seu grande tamanho ocorreu devido à abundância de oxigênio na Terra há 300 milhões de anos. (foto: andytang20 / Flickr / CC BY 2.5)

Os cientistas acreditam, por exemplo, que os momentos de gigantismo pelos quais a vida na Terra passou – isto é, as épocas em que animais e plantas alcançavam tamanhos inimagináveis para os padrões de hoje – tiveram relação com a abundância do oxigênio.

Durante o período Carbonífero, há 300 milhões de anos, a superfície terrestre foi amplamente ocupada pelos vegetais, alguns muito semelhantes às samambaias e avencas atuais. Naquela época, em toda a Terra existiam inúmeras florestas, capazes de uma atividade de fotossíntese muito intensa. Por consequência, a produção de oxigênio aumentou muito, e as concentrações desse gás em nossa atmosfera ficaram muito maiores do que as que encontramos hoje.

A abundância de oxigênio, acredita-se, possibilitou o grande crescimento de alguns insetos, como as libélulas, que, em alguns casos, podiam ter asas com uma envergadura de quase 80 centímetros. Impressionante, não acha?

Como bem diria meu professor de ginástica: “Vejam as libélulas do Carbonífero. Voar… voar… muito ar… muito ar… e tratem de correr… porque assim vocês vão crescer!”

Hoje entendo que ele tinha razão. O ar, em sua transparência infinita e presença constante nos ambientes da Terra, sustenta a diversidade e faz com que, de suspiro em suspiro, exista a beleza da vida.

Matéria publicada em 20.11.2015

COMENTÁRIOS

  • Ana

    Qual o trecho do texto nos diz que a composição da atmosfera nem sempre foi a mesma?

    Publicado em 3 de junho de 2020 Responder

    • Ana

      Como era possível a existência de vida no planeta quando não havia gás oxigênio?

      Publicado em 22 de abril de 2021 Responder

  • João pedro vaz faustino

    A água e o gás carbônico, presentes no ar, absorvem parte dos raios infravermelhos emitidos pelo sol e são responsáveis pela retenção da energia térmica na atmosfera, juntamente com o gás metano e o óxido nitroso, deixando o planeta aquecido e possibilitando a existência de vida na Terra

    Publicado em 24 de setembro de 2020 Responder

  • Ana

    obrigada

    Publicado em 22 de abril de 2021 Responder

  • Ana

    Por que uma taxa fotossintética muito alta possibilitou o crescimento maior dos animais e das plantas?

    Publicado em 22 de abril de 2021 Responder

  • Solange de Lima dos Santos

    Não estou conseguindo resolver às respostas

    Publicado em 30 de agosto de 2021 Responder

  • Franciete

    A abundância de oxigênio na atmosfera é uma situação relativamente nova no decorrer da história da Terra. Já houve momentos em que se tratava de um gás muito pouco comum. Nessa época, sobreviviam em nosso planeta apenas os organismos anaeróbicos, isto é, que não dependem desse gás.

    Publicado em 15 de janeiro de 2022 Responder

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Ismar de Souza Carvalho de Souza Carvalho

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