Você já deve ter visto uma múmia no museu ou em fotos – a CHC 239 mesmo trouxe uma matéria especial sobre o tema. Apesar de um dia terem sido pessoas como nós, elas podem ser bem assustadoras com suas caras esqueléticas e corpos cobertos de bandagens.
Por isso, adorei conhecer o trabalho do arqueólogo Moacir Santos, do Campo Universitário Campos de Andrade, e do artista Cícero Moraes. A dupla reconstruiu digitalmente em três dimensões o rosto da múmia Tohmea, que fica exposta no Museu Egípcio da Ordem Rosa Cruz, em Curitiba.
A Tothmea era uma jovem egípcia que viveu há mais de 2600 anos. Não se sabe como ela morreu, mas os pesquisadores acreditam que tenha sido quando ela tinha por volta de 25 anos. Seu corpo foi embalsamado do modo típico dos egípcios antigos: teve os órgãos internos retirados e foi revestido com faixas de pano.
Ela foi encontrada em uma das necrópoles da antiga Tebas, atual cidade de Luxor, e levada para os Estados Unidos, onde ficou passando de museu em museu até 1995, quando veio para o Brasil.
O arqueólogo Moacir teve a ideia de recriar o rosto de Tothmea, mas sabia que era um grande desafio. Para começar, os ossos de sua face estavam quebrados – o cientista teve que juntar pedacinho por pedacinho, como um quebra-cabeça, e depois colar tudo certinho.
Feito isso, ele e o artista Cícero Moares tiraram fotos de diferentes ângulos do rosto da múmia. Juntando essas imagens em um programa de computador, os dois conseguiram obter uma figura tridimensional da cabeça da múmia. Um grande passo!
Mas ainda tinham um problema: parte da cabeça de Tothmea estava coberta por bandagens e, por ser uma múmia muito antiga, eles não podiam correr o risco de tentar retirá-las e danificar a peça. Para conseguir enxergar as partes cobertas, foram usadas imagens de uma tomografia da múmia.
Com isso, Moacir e Cícero conseguiram obter uma réplica digital quase perfeita do crânio da Tothmea. A partir daí, foram modelando o rosto da múmia no computador – mais ou menos como faríamos com massa de modelar. Primeiro colocaram a camada de músculo, depois a de gordura e a de pele, cada uma em seu lugar, seguindo uma lógica científica.
“Pegamos alguns pontos do crânio e usamos fórmulas para calcular como eram certos aspectos da face, como o tamanho e a forma do nariz”, explica Moacir. “Observando outras características, como a distribuição dos dentes, conseguimos saber o tamanho aproximado da boca e dos lábios”.
Assim como muitos egípcios, Tothmea tinha a cabeça raspada e provavelmente usava uma peruca no seu dia a dia. Para deixá-la mais bonita e parecida com a aparência que devia ter em vida, os pesquisadores deram um toque final inserindo na reconstituição uma peruca como as usadas na época e um colar, também baseado no tipo de joia do período.
“A reconstituição é o mais fiel possível, baseada nos dados materiais que temos e na ciência, até mesmo esses detalhes de acessórios foram inseridos com pesquisa histórica”, diz o artista Cícero. O que você achou do resultado?