Cena comum em desenhos animados: volta e meia um gato sobe em uma árvore e precisa ser resgatado porque não conseguiu descer. Entretanto, outros felinos podem se dar muito bem no alto dos galhos. É o caso das onças-pintadas das florestas inundadas da Amazônia.
Segundo o pesquisador Emiliano Esterci Ramalho do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, elas gostam de zanzar de galho em galho durante os períodos de cheia, quando o solo da floresta fica embaixo d´água.
Isso acontece na reserva Mamirauá, que fica a mais ou menos 600 quilômetros de Manaus. “Em algumas épocas do ano, por conta das chuvas, há uma variação do nível da água de até dez metros, deixando a área totalmente ‘sem chão'”, conta Emiliano, responsável pelo estudo.
Como a temporada de cheia dura de três a quatro meses, a equipe de Emiliano ficou curiosa para descobrir como as onças faziam para fugir da área alagada. Então, os pesquisadores colocaram colares com GPS em algumas onças para acompanhá-las de perto durante os períodos de cheia, além de instalarem armadilhas fotográficas pela floresta.
E não é que a estratégia deu certo? Adivinha onde os cientistas conseguiram flagrar, pela primeira vez, uma onça descansando junto com um filhote? Isso mesmo: em cima de uma árvore, no meio de uma área totalmente alagada, onde o solo seco mais próximo estava a 12 quilômetros de distância.
A descoberta mostra mais uma grande diferença entre os gatos domésticos e as temidas onças. Se os gatinhos têm medo de água e odeiam tomar banho, as onças não estão nem aí para esse problema. Elas são carnívoras e precisam de grandes quantidades de carne para sobreviver – assim, no período de alagamento, quase todo dia elas são obrigadas a nadar de uma árvore para outra em busca de alimento.
É por isso que, durante os períodos de inundação na floresta, o cardápio da onça varia geralmente entre macacos e preguiças. Não é à toa: afinal, são animais que vivem nas árvores.
A pesquisa serviu para reafirmar a capacidade de adaptação da onça-pintada, que vive tanto em áreas secas, quase desérticas, quanto em áreas alagadas, como o Pantanal e a Amazônia. “A espécie já era conhecida por sua incrível flexibilidade ecológica que permite a ela sobreviver em ambientes muito diferentes”, lembra Emiliano. “Mas esse comportamento arbóreo nunca havia sido observado antes em felinos de grande porte.”